Entre as Sombras – Heitz

“Quando os antigos foram forçados a dormir, restou aos mais novos a tarefa de descobrir seus ensinamentos e andar livremente pela casa que aqueles construíram. Alguns entediam, outros apenas encontravam.”
(O Livro de Bronze)

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“Arram pode não ser a maior das cidades, mas ainda assim é detentora de uma grande quantidade de pessoas, animais, casas e riquezas. Cabe aos oportunistas saber lidar com todas as ferramentas que são postas à mesa.

A Sociedade Anônima é um desses que sabem aproveitar as lacunas criadas pelo ego dos regentes, onde, na verdade, deveriam estar inseridas preocupações com o bem estar da população. A S/A é um grupo organizado de ladrões que, apoderando-se da parte baixa de Arram, instalou seu poderio e seu quartel general, não sendo incomodado nem mesmo pela guarda.

Heitz precisava sobreviver, mas nesse mundo desigual, precisava de ajuda – e esse auxílio veio na forma de uma mão adornada de anéis de ouro. Garibaldo inseriu Heitz na sociedade, e se tornou seu padrinho. Dali para frente o jovem deveria se virar sozinho.”

Heitz ainda é um recruta, um simples sócio comanditário, mas que almeja um posto melhor dentro da sociedade. Para isso, deve ampliar seus horizontes, aumentar sua participação nessa empresa do crime que é a S/A, e gozar dos benefícios de estar num patamar bem elevado.

O jovem ladrão precisa sobreviver. Em Arram as possibilidades são muitas, porém grande parte do bolo já tem dono. Talvez lhe falte uma boa oportunidade para alavancar sua carreira, mas com certeza o tubarão tentará engolir a sardinha, minando todas as possibilidades de ascenção da mesma.

Na taverna, na parte não dominada pela Sociedade, Heitz se encontra no balcão, bebendo sua cerveja. Está de dia, e a taverna possui tantas pessoas quanto uma pradaria possui árvores. Numa mesa próxima à porta, e encostada à parede, há um homem solitário portando uma espada e uma cota de malha. Ele parece muito bêbado, e grita bastante, mesmo não tendo ninguém ao redor para ouvir.

Observo atentamente o modo "padrão" das pessoas agirem. Sempre as mesmas rotinas, sempre os mesmos trejeitos e costumes...

A eterna previsibilidade que faz a alegria de um ladrão.

No entanto meus costumes são outros, a taverna não é o lugar onde se ganha ou se come o pão, é apenas o lugar onde sabemos onde há o melhor e mais acessível pão.

Em meio aos devaneios resolvo prestar melhor atenção ao Homem com cota de malha que está gritando...

– Taverneiro! Quero mais daquele néctar dos deuses, hahaha! – gritou o homem com o fundo de sua garganta.

O taverneiro, que se ocupava com a limpeza do balcão de seu estabelecimento, logo foi até a prateleira atrás de si e pegou uma das duas garrafas restantes. Cruzou a tábua horizontal de madeira e levou o frasco até o pedinte.

Vendo os ânimos exaltados do individuo, vou até ele puxar conversa e descobrir porque tanta empolgação.

- Olá colega! Posso me juntar a você? Tenho algo para comemorar hoje e beber sozinho, não faz meu gênero.

O taverneiro, ao colocar a garrafa em cima da mesa, ia se retirando. Ele e Heitz se cruzaram, mas a mão espalmada do homem impediu o progesso do ladino.

– Onde pensa que vai, rapaz? Não vê que ele está muito bêbado? Um aviso: cuidado.

Em seguida o velho homem permitiu que o ladino continuasse.

– Qué você? – disse o ébrio, que mal conseguia fixar seus olhos em Heitz – Pra si juntá ao clúbi, têndi de pága ma táxa: uma rodada de prunellé, qui você qui vai pagá!

- Claro meu amigo, como disse não gosto de beber só...

- Taverneiro mais uma dose para mim e meu colega.

Estendendo a mão digo:

- Meu nome é Haganast, sou vendedor. É um prazer conhecê-lo... Sr.?

– A garrafa de prunellé é cara, rapaz – avisou o taverneiro, que vinha trazendo mais uma caneca.

O velho senhor tentou pegar a garrafa de cima da mesa, para poder servir Heitz, mas o outro homem não permitiu, lhe dando um tapa na mão.

– Eu sirvu meus... camaradas!

O taverneiro parecia bastante farto com toda aquela situação e voltou para seus afazeres, esperando pela resposta do ladino.

– Eu mi chamu Gegard, sentinela da mansão familha Stout! Muinto prazer em conhecê-lo Habagast! – completou Gegard, totalmente alienado dos erros em seu vocabulário.

– O qui faiz um homi tão importanti por aqui, Ragabast? Nessa espelunca!! – gritou, obviamente para que o taverneiro escutasse e se ofendesse.

E foi o que realmente aconteceu.

– É uma espelunca, mas bêbados como você a frenquentam todos os dias, não é mesmo?

– Calaboca velho, eu venhu pus que eu possu!

- Eu estou de passagem pela cidade, vim entregar alguns cavalos para a Igreja local e resolvi procurar uma taverna para beber um pouco.

Alheio a qualquer informação que o ladino pudesse fornecer, o ébrio diz:

– Avisu di amigu: não si meta cuns sarcesdotes de Petraer...

Após o aviso, Gegard continuou a olhar Heitz fixamente, até, por fim, se levantar de um salto.

– Bom, o devê mi chama... – disse com a cara emburrada, logo estendendo a mão para o novo amigo – Prazê in conhecê-lo, Hangahan!

Trôpego, se dirigiu até o balcão, deixou algumas moedas para o taverneiro e rumou para a saída do estabelecimento, sendo alvo dos olhares nada contentes do dono do recinto.

– Como que ele consegue trabalhar nessas condições...?

Maldita consciência...

Se ela não existisse estaria muito mais feliz e rico também!

Fico com remorso de seguir o rufião e ver se onde ele vai tem grana sobrando, mas como ele foi a unica coisa de nota nesta noite chata eu me arrisco.

Deixo dar um tempo da saída dele, pago as bebidas ao taverneiro e pergunto se há algo de interessante na cidade por esta noite.

Se não tiver mais nada de interessante eu arisco seguir meu ébrio companheiro de taverna...

Era o começo da tarde, e o sol estava a pino. As pessoas começavam a chegar à taverna. Enquantos uns chegavam, outros iam, como era o caso de Hetiz

Ao chegar ao balcão, o ladrão se depara com uma surpresa desagradável:

– A caneca consumida custa 20 moedas de cobre – disse o taverneiro, revelando o preço exorbitante da bebida.

A facada deveria ser motivo o suficiente para acabar com o dia de qualquer um, mas, impassível, Heitz se prontificou a pagar o débito. Pena que, ao segurar sua algibeira, o rapaz constatou não ter moeda alguma sob sua posse.

- Não acredito! Fui roubado... Levaram todo meu dinheiro...

Os olhos cansados do taverneiro continuaram a fitar Heitz, mesmo depois da revelação feita. Ele parecia compreensivo, mas não por que entendia a situação, mas por que aparentemente já conhecia a história.

– Então... um mercador estrangeiro vem até minha taverna, bebe com um sentinela bêbado e, mesmo sem a aproximação de ninguém do recinto, afirma ter sido roubado? – pausou e fez uma expressão de análise – Essa pelo menos é um pouco mais original.

Em seguida bateu três vezes com a colher que tinha na mão numa caneca segurada pela outra.

Sem demora, um brucutu de pele oleosa e cabelos bagunçados se aproximou de forma desagradável de Heitz. Ele encostava sua enorme barriga no braço do ladino de forma a querer intimidar. Talvez conseguisse devido a grossura de seu braço obeso, que mais parecia um pernil.

– E então chefinho? O que esse malandrinho aqui acha que está fazendo?

– Ele está devendo o seu soldo, Banha.

Imediatamente o segurança riu, revelando vários dentes amarelos – e a falta de muitos deles. Sua mão larga pôs-se a agarrar o fino braço do ladino de forma a quase quebrá-los como gravetos.

Falando com uma calma e seriedade digna de alguém capaz de cumprir a ameaça:
- Melhor tirar a mão dai Gorducho se não quiser ter susa banhas e entranhas espalhadas pelo chão.

Olhando com o mesmo olhar sério para o Taverneiro:
- Falo sério quando digo que fui roubado. E isto em hipótese nenhuma significa que deixaria de te pagar.

Spoiler:

[Bom, no Mighty Blade não tem perícias. Então, alguns testes – principalmente os de traquejo – serão validados de acordo com a ação.

Agora olhando sua ficha vi que você tem uma habilidade especial para mentiras. Nesse caso, quando sua mentira for muito sem-noção, vou pedir um teste (3d6). Se você passar, a mentira irá colar rs.]

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O semblante do taverneiro mudou com a ameaça de Heitz. Sua boca mole e enrugada tentou balbuciar algumas palavras, mas nenhum som foi produzido.

Banha, o segurança, afrouxou um pouco a mão. Se havia sido intimidado pela ameaça, tentava não transparecer.

– E o que um cãozinho inútil como você acha que pode fazer comigo? Seu esmirrado!

– Tudo bem, Banha... – falou o taverneiro, que não conseguia tirar os olhos de Heitz e que agora estava aparentemente preocupado.

Seus olhos taciturnos revelavam uma boa perspicácia e sua idade era senhora de uma experiência incrível. Talvez embaralhado em seus conhecimentos, o taverneiro parecia temer algo.

– Não está nada bem não, chefe! Vou ensinar a esse miserável com quantos paus se faz uma barraca! – o segurança então mirou um tapa em Heitz com as costas da mão.

Usando de minha incrível agilidade tento desviar do golpe do Grandalhão e me posicionar atrás dele com a adaga já apertando ameaçadoramente sua barriga:

- Vai querer insistir com isso amigo? Vai querer ver se consigo mesmo cumprir a ameaça?

Spoiler:

Rejogando

Spoiler:

Heitz, muito mais ágil que seu oponente obeso, consegue se livrar do forte aperto numa manobra ousada e virtualmente impossível para um cidadão médio.

Girando sobre os próprios calcanhares, se posicionou num ângulo vantajoso: estava diagonalmente encostado ao corpanzil de Banha o ameaçando com sua adaga.

– Por Petraer!! Não queremos problemas com a sociedade! – gritou o taverneiro.

O segurança suava frio diante daquela cena inusitada, pois sua vida estava por um fio – o fio de uma adaga para ser mais exato.

– Acalmem-se – disse um homem que, do fundo da taverna, via tudo.

O dono da voz se levantou de seu acento, revelando um longo manto branco com detalhes azuis. Ele não parecia tão velho – possuindo cabelos loiros e olhos claros.

– Quanto é o débito do rapaz? Vinte moedas de cobre?...

Da algibeira que carregava, o homem retirou três moedas de prata e as depositou em cima do balcão.

– Acho que isso deve cobrir a dívida – em seguida olhou para Heitz, como se pedisse tacitamente para deixar o segurança.

Guardando a adaga novamente no cinto, viro para o Homem e digo:

- Agradeço pela sua generosidade e por gentileza me indique como posso lhe pagar por este providencial empréstimo.

O homem sorriu com as palavras de Heitz.

– Não será necessário... aliás... gostaria de trocar algumas palavras contigo.

Novamente a mão do homem veio recheada: uma moeda de ouro que logo foi depositada no balcão.

– Encerremos esse assunto aqui? – disse ao taverneiro, que assentiu com a cabeça.

Em seguida rumou para fora do recinto esperando ser acompanhado por Heitz. Assim que o ladino chegasse próximo, o homem continuaria o assunto.

– Vi que você possui algumas habilidades interessantes... Você não é mercador de verdade, é?

- Claro que sou. Comercialiso de tudo, produtos diversos, acabei de chegar a cidade para entregar alguns cavalos para o templo local, mas é um mundo muito duro este e consigo me dar bem em vários tipos de empregos também... O que exatamente você tem a propor?

O loiro apenas maneou a cabeça levemente diante das declarações de Heitz.

– Bom. Primeiramente, prazer em conhecê-lo Sr. Haganast. Sou Merrabam, acólito do templo de Ulizes. Venho até Arram à procura de pessoas capacitadas a me ajudarem numa missão. Infelizmente não tenho o tempo como um aliado. Não posso fazer uma procura abrangente e nemdivulgar aos quatro ventos os meus propósitos. Felizmente vi que o senhor se encaixa em alguns requisitos que procuro... sua agilidade e, se me permite, lábia podem ser fundamentais em minha missão – Merrabam fez uma breve pausa, pois havia notado que estava sendo muito prolixo – Sei que o senhor deve ter muitos afazeres em sua profissão de comerciante, e provavelmente não abraçaria a causa. Então lhe pergunto: poderia me indicar alguém para se juntar a mim?

- Como disse é um mundo muito duro e consigo me dar bem em vários serviços... Exatamente o que você está precisando que eu faça? E o principal, quanto está disposto a pagar?

Merrabam sorri com a rapidez do mercador.

– Estou numa missão divina. Devo atender o seu chamado, que acontecerá durante esta semana... – de repente parou, com receio do que Heitz poderia pensar caso fosse cético – Necessito de homens, especialistas e combatentes, que possam garantir minha segurança em minha demanda. Quanto ao soldo, estou disposto a pagar moedas suficientes para fazer um aldeão comum gozar de uma boa vida até o dia de sua morte: começaríamos com cinquenta moedas de ouro no início do serviço.

- Bom eu aceito o serviço!