Por mim ou por ela? [Cap. 4 - Barabbas]

Barabbas tentou processar toda a informação com tudo o que ele conhecia. E a palavra mais próxima para aquela situação saiu de sua boca.

- Hidra.

Aquela palavra inicialmente saiu pura e simples. Mas logo veio a explicação.

- Corta-se uma cabeça e nasce três novas. A única forma de matar é cortar a origem do poder. Agora, qual seria a origem no caso de Frederick?

- Frederik... ele obteve sua magia de um homem que ele diz ser um amigo. Nunca soubemos muito sobre este homem além de que Frederik muito deve a ele. - Ela fez uma cara de leve desprezo. - Aquele homem sempre me foi suspeito. Mas deixe isso para lá, temos mais que nos preocupar agora. Veja bem, Frederick não tem, contudo, tal poder mágico ilimitado. Ele não pode renascer muitas vezes: só precisamos matar seu corpo! Logo ele não poderá nem manter Claus e Johan vivos, logo nem a si mesmo e então teremos vencido!

A garota parecia tanto decidida quanto preocupada e nervosa.

- Verdade ... mas vamos primeiro fazer com que Frederick enfraqueça mais. Você diz que os corpos de Johan e Claus são sustentados por Frederick. Se mantermos Johan sob ataque constante, poderemos enfraquecer Frederick o suficiente para manter uma luta mais equilibrada.

Após pensar em voz alta enquanto conversava com Dahlia, Barabbas aproxima-se novamente da sacada e grita para o povo que talvez ainda estivesse do lado de baixo.

- Continuem atirando nele. E se alguém tiver uma faca ou espada, prepare-se para cortar a cabeça do monstro!

Após seu grito, Barabbas olhou melhor para a situação no andar de baixo. Johan ainda estava no meio das chamas, mas não parecia queimar muito. A instrução que dera, no entanto, parecia ter surtido algum efeito: os policiais haviam se organizado um pouco, aparentemente para atacar.

- Certo! Não parem da atacar, mas não se desesperem! Vamos atirar organizadamente! Cada tiro deve valer! - gritou um dos homens armados. Certamente este possuía nervos de ferro, considerando a postura que mantinha numa situação caótica em que estava. Talvez sentisse que possuiam uma vantagem estratégicam no momento, oque não seria mentira, e isso o deixasse mais confiante.

A situação no andar de baixo já estava nas mãos daquele grupo. Agora Barabbas deveria voltar sua preocupação para os outros dois monstros, cuja localização era incerta. Ele olhou para Dahlia e, sentindo na pele a raridade de momentos de paz como aquele, avançou para ela e lascou-lhe um beijo profundo. Ao final, separou dela na mesma intensidade e disse:

- Vamos, precisamos nos mexer e buscar outro ponto estratégico.

Barabbas tinha também outra intenção em mente. Ele queria passar na cozinha e pegar a maior lâmina que lá se encontrasse. Fosse uma pexeira, fosse um facão, fosse uma espada samurai ...

Dahlia naõ resistiu ao avanço de Barabbas. Na verdade, sequer reagiu: talvez o movimento fora inesperado demais para que ela esboçasse qualquer reação.

Logo que o homem afastou-se, ela pôs-se a seguí-lo, em silêncio.

Passaram pela cozinha. Não precisou procurar muito para encontra uma arma que se encaixasse nos conformes do que procurava: um grande cutelo que estava disposto junto com outros utensílios lhe chamou atenção e, com certeza, viria a calhar caso se encontrasse numa situação de combate direto contra seus inimigos.

- Talvez... - Dahlia murmurou. - Eles podem ainda estar lá atrás da casa.

Já de posse de sua nova arma, enquanto sentia o peso da lâmina acomodar-se na mão, Barabbas conversava com Dahlia.

- Podemos subir mais nesta casa? Tem como irmos para o telhado? Creio que de lá teremos uma boa visão de toda a propriedade.

Apesar da necessidade de urgência e do tempo que escorria por entre os dedos, Barabbas mantinha a calma e a cabeça no lugar. Jamais se desesperava. Ao contrário, buscava as melhores alternativas que sua estratégia pudesse bolar.

- Para o telhado, não. - Ela pensou um pouco. - O melhor que conseguiríamos é a sacada do quarto de Frederik. Ele fica um nível acima do restante da casa, tem-se um boa vista panorâmica da mansão de lá. Se quiser, posso levá-lo. Não sinto que haberá guarda nem segurança na situação atual.

- Parece bom o suficiente para mim. Aliás, lá você poderá investigar mais sobre seu pai. Essa história de um velho guru passando magia é muito caótica. Não fosse eu ver com meus próprios olhos ... mas voltando, deve haver alguma coisa ... boneca voodoo, talismã, totem ... qualquer coisa. Se a 'magia' foi passada, então ela deve estar ligada a algum tipo de artefato material.

Barabbas falava enquanto caminhava, ouvindo também qualquer comentário que Dahlia quisesse fazer. Eles rumariam para a sacada de Frederick.

Dahlia apenas assentiu e seguiu o caminho, guiando Barabbas para o destino. Ela provavelmente estava remoendo os comentários finais do homem, imaginando se estava certo e, se estivesse, oque poderia ser tal item mágico.

Foi incrivelmente rápido chegar aos aposentos de Frederik: apenas um par de corredores, alguns lances de escada e voilá. Estava em frente à pesadas porta de madeira, semelhantes às do escritório que Barabbas visitara anteriormente.

A jovem retirou de seu bolso um molho de chaves e, escolhendo um dentre dezenas com velocidade incrível, abriu a porta.

Adentrando o aposento, era surpreendente a simplicidade do mesmo. Considerando a natureza aparentemente megalomaníaca e as desilusões de grandiosidade de Frederik, era normal de se esperar um quarto mais luxuoso e extravagante para seu repouso.

A pintura neutra branca e os móveis deveras sem-graça compunham um quarto pequeno e ligeiramente vazio, povoado apenas por um armário, uma escrivaninha pequena e uma cama. Próxima à cama ficava uma porta que levava à varanda que Dahlia mencioanra.

Estava amanhecendo e a luz do sol que despontava no horizonte incidia diretamente na tal varanda, que era voltada, talvez intencionalmente, ao leste. A luz entrava pelas janelas do quarto e o iluminavam completamente, mesmo considerando-se a luz solar esparsa daquele horário.

- Chegamos. Ali está a varanda.

- Este quarto ... não parece ser usado para dormir. Talvez seja usado para trabalhos mais ... secretos.

Barabbas seguia especulando, enquanto dirigia-se não à varanda, mas à escrivaninha e prontificava-se a explorar suas gavetas. Barabbas buscava algo que condizesse com seus pensamentos anteriores. Algo que Frederick considerasse um talismã. Algo que ele guardaria em algum lugar secreto. Se tal objeto não fosse encontrado naquele quarto, significaria pouca coisa. Poderia estar guardado em outro lugar; poderia nem existir.

- Veja dentro do armário, debaixo da cama, debaixo do travesseiro ... enfim ...

A mesa de Frederik esra sem dúvida organizada, senão vazia. Sobre a superfície não havia nada além de alguma folhas de papel em branco e uma caneta. Abrindo as gavetas, Barabbas também não encontrou nada de muito interessante ou que chamasse atenção: mais papel, alguns documentos aparentemente da casa ou do terreno, algumas fotos de uma mulher que o homem nãop reconheceu e...

A última gaveta não abriu; Estava trancada. Não fazia idéia de onde poderia estar a chave.

Dahlia por outro lado, procurara embaixo da cama, sob os travesseiros e no armário, como Barabbas sugerira, mas também não obtivera nenhum sucesso.

Barabbas guardou as fotos da mulher em seu bolso. Por algum motivo, aquilo lhe parecia útil. Em seguida, voltou toda sua atenção para a gaveta fechada.

- Dahlia, tem alguma sugestão de como abrir esta gaveta?

Barabbas perguntou, sempre em seu tom baixo. Ele mesmo avaliava a situação e suas ferramentas: três lâminas de diferentes tamanhos, além da arma de Dahlia. Abrir aquela gaveta era assunto top priority.

- Bom, é só uma gaveta. Eu mesma nunca havia entrado neste quarto... - Dahlai parecia um pouco envergonhada com sua própria ignorância sobre o assunto. - Provavelmente com uma chave. Parece ser também uma tranca comum... Se você souber abrir fechaduras...

- Talvez eu saiba uma coisa ou outra ...

Respondeu Barabbas, preparando-se para arrombar a fechadura da melhor forma que pudesse.

Barabbas estava enfrentando alguma dificuldade com a tranca, até que Dahlia o interrompeu e tirou de seu bolso, entregando-o, um grampo de cabelo.

- Use isso. De acordo com os filmes, deveria ajudar. - Disse a jovem, com um leve sorriso no rosto.

Agora com uma ferramenta melhor do que um bisturi ou uma faca, a nova tentativa do homem teve sucesso.

A gaveta deslizou para fora da escrivaninha com facilidade, revelando seu interior e conteúdo.

Estava praticamente vazia. Havia somente uma pequena caixa de madeira maciça esculpida detalhadamente e adornada com desenhos e formas. Não parecia ser muito pesada, mas aparentava ter peso.

As feições de Barabbas não mudavam, a não ser, talvez, por seus olhos. Mirava a caixa de cima a baixo, sério, compenetrado. E então, seus lábios esboçaram um leve sorriso.

- Pandora ...

O nome saiu quase que impronunciável. Ele olhou para a garota, ainda sorrindo, e lhe entregou a caixa.

- De acordo com a lenda, é uma mulher que abre a caixa ...

E nada mais disse, visto que nada mais precisava ser dito.

Duas possíveis situações, ou a menina não entendera plenamente a comparação que Barabbas fizera, ou simplesmente não dera importância à mesma. Abriu a caixa sem delongas nem muita expectativa.

A falta de entusiasmo dela foi respondida pelo recipiente em mesmo tom. Em seu interior, nada mais havia do que uma chave. Seu brilho dourado indicava seu material caro e denotava importância.

- Uma chave. - Murmurou Dahlia, num tom um tanto cansado. - Esse jogo de gato e rato está me entediando. Para que será que essa chave é?

- Quem sabe a chave do coração de seu pai ...

Disse Barabbas num tom ligeiramente jocoso, mas não descartando a possibilidade real do coração do anfitrião estar separado de seu corpo e escondido em algum lugar na casa, e aquela era a chave para chegar até lá.

- Você não se lembra de nenhum lugar, ou objeto, que estivesse trancado e cuja chave jamais encontrou? Algum lugar que seu pai nunca quis que você fosse?

- Não consigo pensar em nada assim. Frederik nunca claramente escondeu nada de mim. Então, se há algo escondido, está bem escondido o suficiente para que nunca tenha suspeitado de nada.

- Neste caso ...

Barabbas pegou a chave em suas mãos e guardou no bolso, junto à foto da mulher que ele não conhecia.

- ... já que o plano B não funcionou, vamos voltar ao plano A: a batalha direta, porém estratégica. Devemos localizar os nossos alvos.

E assim dito, Barabbas dirigiu-se à sacada, tomando o cuidado para não se expor. A intenção era ver, e não ser visto.

A porta da sacada mostrou-se muito mais colaborativa que muitas outras coisas naquela casa ao abrir-se sem maiores problemas.

Ao atravessar a porta, Barabbas compreendeu e afirmou que Dahlia não mentira anteriormente. Certamente era possível visualizar panoramicamente maior parte do terreno. Felizmente, como o sol já despontava no horizonte, a iluminação não era um problema.

Não foi difícil avistar, de forma alguma, seus alvos. Ainda mais após o tal renascimento, que tornara Frederik um ser ainda mais descomunal que Claus. Aparentava ter saído de algum mito fantástico ou coisa do gênero, seu tamanho não era o de um humano comum. Media, facilmente, três metros de altura e a envergadura que seus agora musculosos braços possuíam era no mínimo o dobro do que eram antes.

- Holy shit ...

Era difícil não se espantar com uma situação daquelas, mesmo para um homem como Barabbas. Ele poderia ser duro na queda, mas não era infalível. Ainda bem que a primeira visão de Frederick foi da segura distância que os separava, sem que o anfitrião o percebesse.

- Eu ... estou sem idéias ...

- Talvez... - Dahlia também estava certamente aterrorizada com a visão: tremia. - ... talvez devêssemos pedir ajuda para aquele policiais... Eles estão mais bem armados...

Embora ela não estivesse muito lúcida naquele instante, não era uma idéia a se descartar.

Por sorte, embora estivesse grande apavorante, Frederik não parecia estar nem atento aos seus arredores tampouco se preocupar com os mesmo. Aparentava estar conversando sobre algo com Claus, que permanecia ao seu lado.

- Certo ...

Barabbas limitou-se a concordar e recuou novamente para dentro do quarto.

- Então, melhor seguirmos o mais rápido possível. Não sei quanta munição eles dispoem. Não sei nem se é efetiva ...

Aquilo saía do controle. Barabbas não tinha certeza de mais nada. Até alguns dias atrás, quando ele mostrava uma lâmina para uma pessoa com seu olhar doentio, a pessoa ficava aterrorizada. Agora ... agora ele não sabia se tiros de metralhadora iriam funcionar contra Frederick. Maldito seja!

Barabbas segue, talvez com Dahlia, para a área onde deixara os policiais antes. Com alguma sorte eles ainda estariam lá, lutando contra Johan.