Fazer oque? (Barabbas - Cap. 2)

A noite estava fria, o vento entrava como um tufão pela janela do quarto, forte, levantando as cortinas, que esvoaçavam, formando as silhuetas fantasmagóricas que deixariam uma criança apavorada. Entretanto, a janela estava fechada- o vento passava pela parte quebrada do vidro. Chovia, as espessas e pesadas gostas d'água caiam desenfreadas, punindo incessantemente a cidade- o asfalto e o concreto nus. Pela janela do pequeno quarto do hospital onde se encontrava pouco podia ver da cidade. Enxergava, atráves da cortina d'água, apenas a formas das árvores do jardim interno do estabelecimento.

A sala onde estava era razoavelmente pequena, ali deveriam caber, de pé, no máximo umas dúzia de pessoas espremidas, assim, mesmo no breu em que estava, podia ver muito bem todos os cantos do cômodo. À sua volta estavam algumas outras macas, pequenos criados-mudos caídos, instrumentos médicos derrubados, seringas quebradas, e- coisa que Barabbas estava plenamente aconstumando a ver- sangue. Muito sangue. O papel de parede decerto engraçado, que estampava pequenos palhaçinhos fazendo movimentos repetitivos duma dança certamente estranha, tornava-se macabro, quando a piada se misturava tão íntegramente com o horror do sangue espalhado por ele.

Seus olhos ainda estavam um pouco fracos. Acabara de acordar. Não se lembrava do que acontecera antes- nem de como havia ido parar naquele hospital. Muito menos, então, por que segurava um bisturi ensanguentado com tanta força. Tinha certeza de que se levantasse muito rápido, o sangue lhe falataria à cabeça, deixando-o tonto. Era essa a racionalidade e frieza com a qual conseguia pensar numa situação daquelas.

Haviam somente duas portas naquela sala, as duas num corredorzinho ao sul. Uma ao longo do mesmo, à direita, e a outra no seu fim. A madeira branca (no mínimo parcialmente) era grossa, maciça. Isso con certeza deixava a dúvida em Barabbas: oque raios simplesmente estourara a porta em dois? A porta que ficava- ou deveria ficar no fim do corredor estava simplesmente quebrada, com direito à farpas e um visível ponto de impacto em seu centro, na metade. Era uma tarefa simples passar pela porta sem sequer ter de tocar na maçaneta.

O vento frio novamente tocou o homem na espinha, pressentiu algo ruim.

O cheiro do sangue inundava minhas narinas com o prazer de algo do qual me lembrava. Era como acordar ao lado de uma garota super gostosa e nua, depois de uma noite de bebedeiras, sem se lembrar do que aconteceu. Você pode apenas acreditar que foi bom.

Levanto o bisturi à altura da face e sinto o cheiro do sangue mais de perto. Estico minha língua para o lado sem fio do bisturi no intuito de sentir o gosto do sangue. Gosto de ferrugem, meio amargo. Sorrio e me levanto, para então sentir o calafrio em minha espinha. Nem o diabo está livre de sentir medo. Levanto-me e sigo em direção à porta principal, ignorando o banheiro. Esgueiro-me através da fresta para o que vier além-porta. Observo o local antes de dar mais um passo.

Se o interior daquele quarto não era macabro o suficiente, provavelmente o corredor seria: caos desmedido- tudo quebrado, ao chão. O sangue igualmente espalhado pelas paredes e pelo chão estava sendo desta vez complementado pela sua fonte- os vários corpos mortos espalhados pelo chão.

Estava num corredor longo- que tendia em duas direções opostas, oeste e leste. Barabbas não conseguia, talvez devido à falta de luz, o fim do corredor em nenhum dos dois lados. Ao longo deste estavam dispostas portas à intervalos regulares com pequenas placas que indicavam o número do quarto.

Não fazia idéia do que acontecera ali- só sabia que o jaleco fino que puseram nele era fino demais, e sentia um frio imenso. Podia ouvir gemidos baixos e grunhidos ao longe- nas duas direções, além de passos lentos e pesados.

Mas que diabos ... como aquilo podia estar acontecendo e Barabbas não se lembrar de nada? Aquilo era um pesadelo! Não porque a cena era macabra, mas por um de dois motivos: ou Barabbas fez aquilo tudo e não se lembrava, ou que era um desperdício; ou alguém mais fez aquilo e não o chamou para participar.

Quantas vidas perdidas ... sem a oportunidade de vê-las esvaindo-se dos olhos moribundos, agonizantes e implorando por algo impossível, tentando agarrar-se ao fio de vida que se esvaía por entre os dedos.

Barabbas olhou para ambos os lados. Sentiu fome. Ajoelhou-se ao lado de um dos corpos e, com a ajuda do bisturi em sua mão, arrancou um dos olhos ... e comeu. Seus dentes sujos e estragados trituravam a esfera imperfeita. O nervo ocular era difícil de mastigar, mas o cristalino conseguia ser ainda mais duro. E tinha ... uma certa água ... difícil dizer o que era. De qualquer forma, desceu garganta abaixo.

Após a leve degustação, suficiente para acalmar a fome, Barabbas levanta-se e tenta do fundo de sua mente lembrar-se para qual direção ficava a saída. Caso não conseguisse lembrar de absolutamente nada, ele iria tomar o caminho da esquerda. Afinal, era o caminho do coração.

(( A última linha demostra como Barabbas é uma pessoa romântica. E se precisar fazer algum teste, qualquer teste, faça em sua casa com seus dados particulares. Não tenho o menor interesse ou necessidade de ver os resultados. Confio no mestre. Apenas poste os acontecimentos ^_^ ))

[Certo. Muito obrigado pelo voto de confiança, é bom saber que ainda existem jogadores que confiam, ao invés de querer que você re-role os dados porque bateu um ventinho na hora... Mal a demora pra responder, tive que fazer umas correções no mapa do lugar- tinha uns erros banais.]

O Gosto do globo ocular invadiu a boca de Barabbas e permanceceu na mesma por um bom tempo. Era um gosto peculiar e, embora para outras pessoas pudesse ser impensável- nojento, repugnante, ele considerava aquilo como um doce raro, que dificilmente poderia apreciar.

Seguindo pelo corredor, o caminho seguia a mesma coisa: caos e destruição, a mesma cena horripilante, macabra. Passou por mais um par de portas, antes de se topar com uma esquina para a direita no corredor.

Bem no canto da parede, através da escuridão, Barabbas conseguiu ver uma pequena porta de madeira assim como as porta dos quartos. Presa por quatro pinos à mesma estava uma placa que dizia em grandes letras brancas: "Sala da Segurança".

Olhando pelo corredor que se estendia além da curva, haviam janelas ao seu lado esquerdo, dispostas a intervalos regulares. À direita, neste novo corredor, a parede era maciça.

Um pocuo à sua frente, viu algo refletindo a luz que entrava pela janela. Pela escuridão, poderia ser uma poça de água- ou até sangue- ou algum objeto metálico.

Ouvia ainda, de além de onde sua vista alcançava, passos lentos e alguns grunhidos, assim como antes.

O que fazer a seguir? Eram tantas opções ... a curiosidade matava Barabbas provavelmente mais do que a verdade por detrás do grunhidos iria fazer. Contudo, a sala de segurança parecia mais convidativa. Como, além da sala, ainda tinha aquela coisa brilhando no chão, Barabbas decidiu-se por seguir naquela direção.

Caminhando sempre em silêncio, não por medo, mas para não estragar uma chance de surpreender uma provável vítima, Barabbas aproxima-se do objeto e fica de cócoras para melhor examinar o objeto sem tocá-lo.

Ao aproximar-se, identificou o brilho: uma faca metálica brilhava à luz da lua que ainda iluminava o lugar, mesmo que de leve. A lâmina da arma era de alta qualidade: tratava de uma faca de combate policial. Barabbas pôde concluir tal coisa pelo cadáver que estava ao lado da arma. O corpo vetia um colte à prova de balas rasgado em alguns pontos, além de um uniforme policial encharcado de sangue.

Ignoro completamente a proteção do policial. Se não fora suficiente para ele, não seria para mim também. Contudo, a faca me parece bastante útil. Não tanto quanto o bisturi. Este parece ter um charme especial. Mas a faca ainda seria útil. Seguro então o bisturi na mão esquerda e agarro a faca na mão direita. O próximo passo é encontrar uma saída daquele inferno.

Observo tudo atentamente, buscando uma possibilidade de sair pela janela. Se não for possível, continuo o caminho pelo corredor, sempre buscando ser silencioso.

Barabbas se aproxima da janela, e põe a cabeça para fora, para ver a altura de onde estava e tudo mais. Assim que vê o chão, sente a água fria da chuva caindo forte em seu cabelo, e escorrendo por sua face, fazendo-o tremer. Pôde ver, assim, que estava no primeiro andar e que, devido ao pé direito não muito alto do hospital, não seria uma queda muito maior do que seis metros. Se conseguisse alguma coisa que o ajudasse a descer, poderia chegar ao térreo pela janela ileso. Mesmo sem nada, ainda poderia pular- embora isso fosse um tanto perigoso.

Avançou mais um pouco pelo corredor. A passos lentos e silenciosos, andava cautelosamente. Os gemidos e passos ficavam cada vez mais altos, mais próximos. Na escuridão, Barabbas pôde ver a vaga silhueta de uma pessoa vagando no meio do cadaveres, pelos corredores manchados de sangue. A pessoa parecia estar de costas- não o havia visto.

Paro o meu caminhar como o vento que pára de soprar. Começo a refazer meus passo para trás, como uma fita sendo rebobinada, o suficiente para que a pessoa saia do meu campo de visão e eu saia do campo de visão dela. Não quero confusões por hora ... não antes de saber o que aconteceu direitinho naquele hospital.

Se tudo der certo, retorno em silêncio para a janela e procuro um meio de descer. Provavelmente, o meio mais direto seria me dependurar com as mãos segurando a janela (o que me reduziria metro e meio de altura) e então me jogar. Mas antes eu teria que dar um destino à faca e ao bisturi. Procuro largá-los da janela um pouco mais à direita. Desta forma, eles vão cair num ponto não muito difícil de encontrar depois e eu não vou correr risco de cair em cima deles.

Dou uma última olhada ao redor e olho para o segurança caído. Jogo o corpo dele primeiro e em seguida vou eu.

(( Se em qualquer momento a ação precisar ser interrompida, faça-o ^_^ ))

Barabbas raciocinou um pouco na melhor maneira para saltar e acabou por jogar suas armas: a faca e o bisturi, pela janela ao lado e depois jogar o corpo do policial morto primeiro.

O corpo caiu sobre o chão de concreto abaixo produzindo um som seco- como um saco de farinha caindo ao chão, embora o chão estivesse molhado.

Barabbas colocou um pé no parapeito, o outro em seguida, e, colocando seu peso igualmente para nãir de cabeça primeiro, soltou-se. Caiu perfeitamente sobre o cadáver imóvel do policial, amortecendo sua queda. Chegou ao andar térreo ileso.

Olhando ao redor agora, compreendeu realmente o quanto aquela chuva atrapalhava. Era fria e caía com força, incomodando plenamente quando atingia repetidamente o corpo todo. Estava no pátio interno do hospital. à sua volta, haviam vários jardins pequenos e grandes árvores que se erguiam sobre sua cabeça. Haviam alguns corpos sem vida espalhados pela grande área do lugar, mas todo o sangue- junto com seu cheiro e odor forte- já havia sido lavado pela água dos céus.

Oque limitava a área quadrada do pátio era o próprio prédio do hospital, com três grandes porta que levavam para o interior, uma ao norte, uma à leste e outra ao sul. Os portões norte e leste estavam destruídos- abertos, trancas arrobadas, as portas caídas ao chão, amassadas.

Quanta patifaria! O cara que havia feito aquilo não tinha o menor senso de profissionalismo. Era apenas barbárie. As pessoas já não sabiam mais ser discretas ... o mundo andava muito barulhento. A própria figura de Barabbas não exercia medo sobre os demais. Crianças cresciam vendo violência gratuita na TV e aquilo havia virado banal. Agora, mais uma cena de bizarra para entrar para a coleção. Diante de uma cena daquelas, quem iria se espantar com a forma que Barabbas usava para torturar a mente de duas irmãs usando o amor que uma sentia pela outra contra elas mesmas? Barabbas não estava feliz ... ele queria, de certa forma, achar o responsável por aquela cena e acabar com sua vida, dando-lhe uma bela dose de terror pessoal, ao estilo Barabbas. Mas ... e se a pessoa o encontrasse antes?

Barabbas recolheu as suas armas e olhou por um momento para o corpo do policial/segurança. Então removeu as roupas do homem e vestiu-as, trocando de identidade. Procurou por algum documento de identificação, até mesmo um crachá, para que soubesse que identidade nova iria assumir. Procurou também por armas de fogo.

Após sua busca, Barabbas segue silenciosamente em direção aos portões destruídos, sentindo a estranha sensação de calçar as botas do antigo dono. Era como se ele trilhasse o caminho da morte ...

Os trajes do policial serviram em Barabbas como uma luva. Na carteira do morto, descobriu documentos que indicavam sua identidade como sendo Paul Jones, 34 anos.

Pegou suas armas novamente, além de vestir na cintura o coldre do homem morto, que continha uma .45 Colt. Infelizmente, Barabbas nã encontrou mais munição sobressalente no corpo- ficando assim só com as seis balas que estavam carregadas.

[Só uma dúvid: Você foi pro protão leste ou norte?]

(( Flip a coin ^_^ Como eu não especifiquei, bote o que você quiser. Mas se ainda tenho chance de decidir ... ))

Leste ou norte? O leste representava o nascimento, a estrela da manhã, astro-mor do espetáculo do dia que nascia todas as manhãs, imponente, irresistível. Mas o norte escondia mais supresas ... e foi ao norte que os três reis magos avistaram a estrela que lhes guiou ... norte serviria.

Barabbas rumou para o norte.

Ao passar pelos destroços e escombros da porta destruída, Barabbas se viu no grande hall de entrada do hospital. Haviam quatro portas na parede do outro lado da sala. Vários bancos e assentos estavam posicionados ao longo do cômodo, além de algumas máquinas de bebidas e salgadinhos. Ali parecia ser a recepção do lugar. Talvez pudesse sair do hospital por ali, caso quisesse.

Este lugar também não era um exceção ao estado grotesco do resto do hospital: haviam alguns cadáveres espalhados por aí.

Dois corredores seguiam um para leste e outro para oeste, do lugar onde estava, levando para o interior do hospital.

Enquanto estava perdido observando o lugar, ouviu uma fina risada- como a de uma criança- vindo do corredor que levava ao leste.

A risada da criança me tira dos meus devaneios e me mergulha em outros. Flashes e lembranças obscuras, paredes de pedra, um convento. Uma criança correndo, alegre, dando risadas gostosas e inocentes. Um pinguim gordo com rosto de mulher velha o parou, interrompendo sua brincadeira. A madre responsável pelo convento lhe arrastou pela orelha. Sentiu a cartilagem se desprender do crânio, ficando a orelha presa apenas pela pele, vermelha de sangue. Sua expressão era de dor, mas as lágrimas ainda não haviam descido. Estavam esperando a chegada o prato principal ... a colher de pau. Um estampido seco e rápido. A mão adormeceu. Não sentia dor. Apenas a impressão de que sentiria. Em verdade, iria sentir a dor em uma ou duas horas, tempo suficiente para a dormência passar. Mas a dor também passaria ... como também passaria o aviso de não correr nos corredores.

Barabbas sorri ante a lembrança do passado e dirige-se à máquina de salgadinhos, evitando pisar nos corpos como quem evita sujar os pés em uma poça de coca-cola. Pegou dois saquinhos de salgadinhos, mesmo que para isso fosse necessário forçar a máquina. Jogou um saquinho para o corredor leste e abriu o segundo. Dirigiu-se então para a saída do hospital, calmamente, enquanto comia o salgadinho.

Ignorando tudo aquilo à sua volta, Barabbas simplesmente foi até as portas do hospital. Empurrou uma delas. Estava trancada. Tentou a próxima. Mesmo resultado. No fim, acabou descobrindo que todas elas estavam trancadas.

Ouviu barulho de plástico atrás de si. Havia um pequeno garotinho que aparentava ter uns dez anos, no máximo, ali, de pé no meio dos cadáveres. Ele segurava o pacote de salgadinho que Barabbas jogara para ele nas mãos, e tinha alguma coisa- um molho de chaves, pelo que Barabbas conseguia ver, na outra.

- Precisa disto? - O garoto disse, com uma voz inocente, e mostrou as chaves. - Se quiser sair, vai precisar disto.

(( A porta nao eh de vidro O.o ??? Deveria ser facil quebrar. Geralmente portas de hospitais sao de vidro XD E eu estou postando de um computador peba da Facul que nao tem acento. ))

Viro-me pouco a pouco para encarar o garoto. Minha face estah seria. Aproximo-me alguns passos, apenas o suficiente para que, estendendo a mao, possa receber do garoto as chaves. Agacho diante dele e entao estendo minha mao esquerda espalmada para cima enquanto abro um leve sorriso de dentes doentios.

- Voce pode me emprestar?

[A porta é de vidro sim, mas como você não falou nada sobre quebrar se necessário, não narrei que você faria isso direto...]

O garoto vê a mão de Barabbas estendida, dá um tapa na palma da mão dele, gitando:

- Não! - Ele puxou as chaves para perto de seu corpo, protegendo-as. - São minhas! Se você quiser as chaves, vai ter que fazer uma coisa antes!

Embora o garoto fosse pequeno e parecesse fraco, o tapa que ele dera na mão de Barabbas ainda dóia bastante.

Barabbas olha para o garoto e levanta-se sem dizer uma só palavra. Procura uma cadeira, um banco ou qualquer outra coisa à sua disposição para arremessar contra o vidro. Ele iria quebrar a porta e então sair.

Se por algum motivo a porta não cedesse, seja por vidros blindados extra-fortes, seja por macumba sobrenatural do garoto que toma esteróides, aí sim Barabbas voltaria para o garoto e perguntaria:

- O que é?

Barabbas agarrou a primeira coisa que poderia ser resistente o suficiente que encontrou: um enconto de braço quebrado de um dos bancos, e o arremessou com força contra o vidro de que consistia a porta do hospital.

O impacto foi tamanho que o vidro estilhaçou na hora, quebrando-se em milhares de minúsculas partículas cortantes. O som estridente do vidro quebrando-se fez o garoto tapar os ouvidos, encolhendo-se.

O vento forte a a água da chuva incessante entravam pelo buraco que fizera na porta e Barabbas agradecia agora por estar protegido pelo colete e vestes do policial.

Sorrio ante a porta aberta. Olho novamente para trás e sorrio para o garoto, estendendo minha mão à espera da mão do garoto.

- Você vem?

Se o garoto vier, seguiremos juntos porta afora até o próximo evento. Se o garoto não vier, simplesmente darei de ombros e caminharei porta afora sozinho.

O garoto virou a cara, um tanto indignado.

- Vou. - Ele disse, abrindo o pacote de salgadinho e andando na direção de Barabbas.

Os dois seguiram para fora do hospital. Estava muito frio, a chuva ainda caía tão forte quanto antes, ensopando logo a roupa dos dois. A noite não estava convidativa, como se alertasse as pessoas para não saírem de suas casas. Entretanto, o moleque parecia não se importar com o frio nem com a chuva- vestia somente uma camisate simples branca e calças largas, muito maiores que ele.

- Para onde você vai? - Ele indagou, com uma cara de tédio. - Tem alguma coisa pra fazer? Algum objetivo?

Mesmo fora do prédio, Barabbas ainda estava dentro do terreno do hospital. Viu um carro saindo do estacionamento à sua esquerda em alta velocidade, como se estivesse fugindo de algo. Viu também, andando lentamenet em direção ao portão do lugar, uma silhueta de uma pessoa um tanto alta.

Ao vê-la, o garoto se escondeu atrás de Barabbas.

- Objetivos? Isso depende ... o que você deseja fazer?

Pergunto, enquanto caminhava-mos. Isto até que uma figura nos interrompeu. Alguém alto demais para dar susto até no garoto. Susto ... medo. O garoto tinha medo. Sorrio. De alguma forma aquela figura pequena e frágil ganhava novo significado. A criança sentia medo.

- Você ... está com medo?

A pergunta era retórica. Não precisava de resposta. A vontade de ver os olhos arregalados do garoto enquanto o sangue escorria de seu corpo era enorme, mas apenas não era maior que a curiosidade em saber o que provocava tal medo no garoto. Aproximo-me alguns passos até que a figura esteja visível o suficiente.

O garoto tremia, escondido do dono da silhueta distante. Seus olhos fixavam-se num ponto além do que era visível, como se visse perfeitamente o rosto de ser que estava ali.

- Aquele cara é perigoso...- Ele disse, em voz baixa.

Barabbas, interessado e curioso, aproximou-se vagarosamente. A cada passo, definiam-se mais os contornos do homem alto e bem vestido que parava ali, de pé, no meio do pátio.

Com postura extremamente altiva, ereta, um alto homem de cabelos pretos olhava para Barabbas com um olhar crítico. Trajava um terno já em péssimo estado- simplificando, vestia traje social completo, coisa de certo incomum para alguém andando na chuva.

- Quem é você? - O homem disse, sua voz grossa soando forte.