Fazer oque? (Barabbas - Cap. 2)

O interesse de Barabbas por aquela figura aumentava cada vez mais. Muitas eram as perguntas que assolavam sua mente. Por que o garoto sentia tanto medo dele? Por que os dois não estavam em histeria diante de cena brutal com corpos no chão, como a maioria das pessoas faziam? E mais importante de tudo: Seria Barabbas capaz de reproduzir o efeito do homem? Ele conseguiria ganhar o mesmo poder de amedrontar que aquele homem tinha?

Sorrindo, Barabbas lentamente desprende a plaquetinha de identificação militar que normalmente fica presa ao lado esquerdo da roupa e levanta à altura dos olhos, para ler o nome.

- Sidney Magal.

Disse em tom de voz constante e tranquilo, voltando a abotoar a plaquetinha na roupa. Barabbas dá uma breve olhadela para trás, para ver o garoto, e então dirige-se ao homem novamente.

- E o seu nome?

O homem permaneceu imóvel, impassivo.

- Se lhe importa, meu nome é Claus, servo da nobre família Frederik. - Ele olhou para o garoto que se escondia atrás de Barabbas. - Jovem Johan, oque está fazendo com o senhor Magal? Porque se esconde?

Então estava claro que os dois já se conheciam. Talvez por isso o garoto sentisse tão profundo medo do homem. Um passado horroroso, talvez?

Embora Barabbas estivesse à beria de tremer do frio cortante, os dois pareciam alheios à fria chuva e congelante vento- tão pouco pareciam se incomodar com os cadáveres que estavam ao chão.

- Nem vem, esse sobrevivente é meu! - O pequeno exemplar de homem disse, com sua voz naturalmente estridente, e, numa atitude típica de criança, mostrou a língua para o Claus.

"Pequeno sobrevivente ... meu? Como assim? Afinal, quem era a presa e quem era o predador?" Os pensamentos corriam soltos pela cabeça de Barabbas. Estava quase impossível resistir ao frio, mesmo com as roupas emprestadas do guarda. E se aquilo estava se convertendo em uma reunião de seriais anônimos, era melhor Barabbas deixar aquilo entre família.

- Vejo que vocês já se conhecem. Acredito que este garoto seja sua responsabilidade, Sr Claus. Assim sendo, deixo-o aos seus cuidados e me retiro para cuidar dos que são meus ...

O intento de Barabbas era retirar-se do local, e da presença daqueles dois. "O que eles são? Loucos? Não percebem que estão em meio a tantos cadáveres, debaixo de uma chuva estupidamente fria?" Sigo pensando, enquanto calmamente caminho entre cadáveres, debaixo de uma chuva estupidamente fria ... até onde os dois me deixarem ir, obviamente.

- Na verdade, senhor, o garoto sabe se cuidar muito bem sozinho. Creio que logo perceberá como a hierarqui fuinciona na família Frederik. Isto é, se você optar pelo caminho inteligente. - Com uma mesura, o homem bem vestido se afatou. - Um prazer conhecê-lo, senhor Magal. Até mais ver.

Com isso, rapidamente se afastou na escuridão e na chuva- em questão de segundos Barabbas já não conseugia mais vê-lo.

- Pff, cara chato. - Johan parecia muito mais solto agora. - Tava com medo que ele fosse tentar pegar você pra ele. Que bom que ele é mais inteligente que isso. Mas então se você não tem nada pra fazer, tenho ma coisa pra te mostrar, e uma proposta pra fazer. Nessa mesma ordem.

A pele já estava úmida e fria. Os dedos do pé já estavam dormentes e Barabbas sabia que estava chegando ao seu limite. Ele precisaria sair daquela chuva se não quisesse pegar uma frieira. E que papo era aquele de "pegar para ele"?

Barabbas voltou-se para o garoto e sorriu novamente, seu cabelo já bagunçado com a chuva e colado à cabeça, escorrido.

- Se vamos conversar, que tal entrarmos no hospital e sairmos dessa chuva? Mas antes de irmos, me responda uma coisa: quantos anos você tem?

- Ah, a água te incomoda. Tinha esqueçido. - Ele fez um movimento de vem com mão e começou a andar pna direção do prédio do hospital. - Vem, então. Acho que sei ondetem umas roupas secas aí dentro. Você não se incomoda com sangue, né?

Chegaram ao interior do hospital logo. O garoto pôs Barabbas sentado num dos bancos em frente à porta e após falar pra que o esperasse, partiu. Em pouco estava de volta com duas trocas de roupa.

- Se seca com uma e veste a outra. - Ele jogou as vestes no colo do homem. - Você queria saber minha idade, é isso? Cara, eu tinha uns nove anos. Tem mais alguma coisa que quer saber?

Barabbas achou melhor seguir as instruções do garoto enquanto o examinava. Ele não havia entendido direito o papo do Sr Claus lá atrás com relação a 'escolher o caminho certo'. De qualquer forma, ninguém gosta de escolher o caminho errado. O problema é que certo e errado variam de pessoa para pessoa.

Quando o garoto chegou, entregou as roupas e respondeu a pergunta de Barabbas. E uma coisa intrigou o homem ... ele usara o pretérito perfeito para se referir à própria idade. Que tipo de garoto se refere no passado, toma postura de quem está cuidando de um adulto e o considera 'seu'?

Barabbas retira o revolver do coldre e deixa sobre o banco. Também coloca lá a faca e o bisturi, sem ligar para a presença do garoto. Algo dizia que aquilo não faria diferença. Então ele retirar as roupas do policial e se enxuga, para logo em seguida voltar a vestir roupas de hospital. Ele procurou por algum nome, mas não encontrou nenhum. Chato. Agora ele voltara a ser Barabbas Christ.

- Por que você disse que tinha nove anos? Quantos você tem agora? Dez?

- Agora...? Doze... Acho. - Ele pareic aum tanto confuso. - Mas não importa, no fim das contas. Cara, você tá ligado no que aconteceu aqui ou não tá sabendo de nada?

Ele parecia bem calmo, relaxado com toda a situação, pouco se importou com as armas que Barabbas descarregara no banco, isto é, se é que notou que elas estavam ali.

Já vestido Barabbas olha novamente para o jovem garoto, como que analisando o que estava acontecendo. Normalmente, as pessoas - principalmente garotinhos daquele tamanho - saíam correndo desesperadas de situações como aquela. Mas o garoto não só parecia não se importar, como também parecia saber o que houve no lugar. E novamente movido pela curiosidade, Barabbas deixou-se levar na onda do garoto.

- Não, jovem Johan Frederik. Não faço idéia do que aconteceu aqui. Você poderia me dizer?

Barabbas cruza uma perna sobre a outra e aguarda a criança falar, em posição de quem está pensando ou prestando muita atenção.

- É, falaram que quem sobrevive costuma perder as memórias... - Ele parecia bem intrigado e interessado em Barabbas. - A família Frederik tá usando essa cidade como um laboratório de testes. Você encontrou alguma pessoa andando pelo hospital? Era um dos nossos "soldados". Oque aconteceu aqui é só consequência dos nossos testes.

O que o garoto dizia tão naturalmente soava confuso e acoeso para Barabbas. Não fazia idéia do que o moleque queria dizer - talvez por não ter topado com ninguém.

Barabbas olhava para o guri com cara de quem não entendia nem o idioma que ele falava.

- Não. Não vi ninguém pelos corredores. Ouviu muitos grunhidos, verdade, mas conseguiu evitar todos com relativa facilidade.

O serial killer estava intrigado com as informações do guri. Afinal, que tipo de testes eram aqueles? Barabbas não conseguia pensar em outra coisa que não Raccoon City, do filme Resident Evil.

- Então, eles são zumbis?

Barabbas perguntou do nada. Simplesmente Barabbas esqueceu de explicar a linha de raciocínio que o levou a formular tão questão. Em verdade, ele não se esqueceu. Ele suprimiu de propósito. Não queria gastar tempo explicando e tanto fazia o garoto saber ou não a linha de raciocínio. O que interessava era a resposta. E o mais interessante de tudo, Barabbas agia normalmente diante daquela situação e diante daquela conversa. Apenas estava sentado no banco, ao lado de suas armas, com uma perna cruzada sobre a outra. Pouco lhe importava os corpos ao seu redor ou o fato do garoto de 9 a 12 anos falar coisas extremamente estranhas.

- Gostei de você. Você é esperto, e tá nem aí se tem um exército de zumbis destruíndo a cidade. Sim, são mortos-vivos. - O garoto disse, zombeteiro. - Esses pessoas se acostumaram demais com a idéia de zumbis... Culpa desses filmes aí.

O garoto parou e pegou um broche de bolso da calça e o mostrou à Barabbas. Era dourado, mas não parecia outro. Em sua superfície, em baixo relevo, estava a gravura de um corvo, suas asas fechadas.

- Meu pai me deu um serviço pra hoje. Eu tenho que sair pra rua e encontrar alguém que tenha sobrevivido aos zumbis- e convencer essa pessoa a nos ajudar. - Ele deu um sorriso de vendedor desesperado para fechar o negócio. - Você está bem acima dos requisitos. Podemos resolver pagamento mais tarde, discuta com meu pai. Que tal?

Calma calma calma ... como é que é? Este guri está falando sério. Zumbis de verdade? Os pensamentos de Barabbas não condiziam com o seu comportamento. Ainda que o homem não demonstrasse, por dentro ele estava um caos. Afinal, ele não acreditava de verdade naquela história de zumbis. Só tinha falado por lembrar do filme e só. E como assim experimento? Aquilo já estava demais. Talvez fosse melhor apenas matar o garoto e esquecer aquela história toda, voltar à sua vida "normal".

Por outro lado, a curiosidade de Barabbas em saber mais sobre aquela família o aguçava por demais. Que tipo de família confiava a uma criança uma missão como aquela? E não, o garoto não tinha fugido. Se fosse o caso, aquele pinguim de geladeira chamado Claus teria levado ele embora. Barabbas continuava em sua luta interior, apenas olhando o garoto por um tempo. Matar ou não matar? Eis a questão!

***

- Quanto tempo daqui até sua casa?

Barabbas perguntou ao garoto, já levantando-se do banco e colocando o revolver preso de volta à cintura, junto com a faca militar e mantendo o bisturi em sua mão esquerda. Aquela já era a sua resposta final ... ele aceitaria a proposta.

- Minha casa fica fora da cidade, para falar a verdade. No meio da floresta. Sua dorte é que estamos perto. - Ele deu uma risada. Bem alta. - Mas não deve levar nem vinte minutos.

O garoto jogou o broche para Barabbas, fazendo um gesto de "preda na roupa" e pegou um celular do bolso. Embora estranho, misterioso e sem nem um pouco de sentido, ele se comportava como um garoto normal. Até certo ponto. Começou a falar com alguém, e, em alguns segundos, desligou.

- Certo, parece que minha irmã conseguiu um sobrevivente também, ela disse que nos dá uma carona. Daqui a pouco ela está aí.

Estranhamente, Barabbas estava comaçando a achar tudo aquilo um tanto normal, comum. Como se esperasse a mãe de um amigo no colégio para dar uma carona até em casa- o clima e a atmosfera do lugar pareciam não afetar o homem.

Alguns minutos depois, uma mini-van parou na rua do lado de fora do hospital.

- Ali, minha irmã. Vamos. - O garoto disse, saindo do prédio.

Embora ainda estivesse frio, a chuva havia enfraqueçido, de forma que Barabbas podia andar normalmente pela rua- embora continuasse sentindo-se frio.

Enquanto caminhava pela rua, continuou pensando nas informações que o garoto lhe dera.

"Então ele tem uma irmã. E existe outro 'sobrevivente'? Então essa cena de corpos se repetiu em outro lugar? E ninguém me chamou para participar? E o mais importante: esse outro sobrevivente é abordado por uma garota, e eu fico com o guri? Isso é um absurdo! Uma falta de respeito com um cidadão de bem como eu. E nem posso contar com a polícia numa situação dessas, bando de inúteis."

Barabbas mantinha seus pensamentos para si e suas feições não esboçavam o caos interno que os recentes acontecimentos haviam trazido ao homem. Se antes Barabbas via o mundo através de um espelho, agora ele via através de um espelho quebrado, de cabeça para baixo.

PS: Descrição da 'irmã' e do 'sobrevivente' e de quem mais tiver no carro ^_^

Barabbas se aproximou do veículo. No assento do motorista se encontrava uma jovem- aparentava ter uns 20 anos- ruiva, linda, trajava uma blusa escura, diga-se de passagem, com um decote impressionante. Que Barabbas pôde ver, só havia essa garota no carro.

Abriu um sorriso meigo- que sinceramente não combinava com oque o homem esperava de alguém que também estava caçando "sobreviventes" de um "experimento" com zumbis.

- Você é o sobrevivente que meu irmão achou? - Ela abafou uma risadinha, olhando Barabbas de cima à baixo, crítica. - Nada mal. Johan, entre aí atrás com meus sobreviventes- quero a companhia desse senhor comigo na volta.

O garoto olhou, animado, para a van.

- Posso falar com eles? - Seus olhos entusiasmados brilhavam. - Eba!

Johan partiu, saltitando, para trás do carro, abriu a porta do mesmo e entrou, logo fechando a porta atrás de si. Não se podia escutar exatamente oque se dizia lá dentro, além de algumas vozes fracas.

- Qual é seu nome? - A jovem disse, abrindo o lado do passageiro. - Me chamo Dahlia. Entre, podemos falar no caminho, estou ficando com frio.

Ela parecia dizer a verdade- estava um tanto quanto encolhida em seu assento, com os braços em volta do corpo, numa tentativa de manter o calor corporal. Com isso dito, ela fechou a janela, e fez um sinal para que Barabbas desse a volta.

Barabbas observou a mulher de uns 20 anos. Ela era bonita, até demais. Ele perguntava-se se o sangue dela seria igualmente belo. Em silêncio, ele rodeou o carro e entrou pelo outro lado, fechando a porta com cuidado. Quando queria, Barabbas sabia ser bem educado. Sem olhar para a irmã de Johan, Barabbas começou a falar.

- Dahlia ... vem de A. Dahl, um sueco responsável pela propagação da flor pela Europa. A flor em si é originária do México, onde era cultivada pelos índios que apreciavam sua beleza. Esta flor tão versátil quanto poderosa chega a medir 1 metro e meio quando adulta.

Então ele olha diretamente para ela, avaliando-a de cima a baixo.

- Acho que você bateu o recorde.

Após a pequena paquera, Barabbas sorri e põe-se a pensar ... afinal, por que o garoto Johan não ligava para o frio absurdo, enquanto a mulher parecia afetar-se bastante com ele? Em seguida, ele fez uma nota mental para si mesmo: a garota exercia algum tipo de poder tutelar sobre o menino.

Dahlia deu uma risadinha e, com um movimento forte e repentino, puxou o pesado câmbio, colocou a van na primeira e acelerou lentamente.

- Vamos demorar um pouco- e a estrada vai ser um pouco esburacada. Espero que não se importe. - Ela parecia se preocupar muito mais com os outros que seu irmão, e deixava isso bem claro. - Você é bem culto, não? Não sabia dessa origem do meu nome. Só sabia que era o nome de minha mãe, que meu pai resolveu passar pra mim.

A jovem falava bastante, mais do que Barabbas havia ouvido desde que acordara no quarto solitário e ensanguentado do hospital.Ela fez um pouco de força novamente, passou o motor do veículo para a segunda marcha e acelerou mais.

Olhando pela janela, Barabbas podia observar as ruas: pessoas- se é que eram isso- vagam lentamente de um lado para o outro, muitas vezes sua atenção sendo chamada pela ronco do motor em meio ao silêncio profundo que dominava aquela parte da cidade.

As gotas d'água caiam no párabrisa ritmicamente- tão logo a motorista ativou o limpador para que pudesse ver o caminho.

- Mas me diga uma coisa. - Ela fez um breve pausa. - Por que aceitou a proposta de trabalhar para meu pai assim, de boa vontade?

(( Tem horas que a gente precisa fugir do personagem para não estragar um RPG XD Mas Barabbas está doido para atirar na cabeça de Dahlia só para ver se o sangue dela é bonito. Mas como eu acho que isso vai estragar por demais a história, vamos continuar XD ))

Barabbas não sorriu nem respondeu à primeira pergunta da garota. Ele não era de contar sua vida para os outros. Ao contrário, ele gostava de ouvir mais da vida dos outros. As pessoas ganhavam mais significado, mais vida. Tornavam-se muito mais ... humanas. E isso dava muito mais prazer em ver a vida se esvair de seus olhos. Quanto mais a mulher falava, mais Barabbas sentia vontade de ver isto acontecer com ela, ver o brilho de seus olhos sumirem lentamente.

Mas Barabbas não iria por a carroça na frente dos bois. Não ... ele iria ter o maior proveito da garota. Afinal, brinquedos se tornam inúteis depois de quebrados, ainda que o ato de quebrar seja divertido também.

A única pergunta que Barabbas não podia ingorar foi a última, por ser uma pergunta direta. Ele pensou uns segundos antes de responder e então optou pela verdade. Afinal, o que ele tinha a temer?

- Eu não aceitei. Em verdade, eu estava curioso para saber quanto tempo levaria do hospital até a casa de vocês, considerando que vocês moram na floresta.

- Do jeito que vamos, não vai levar nem vinte minutos. - Ela sorriu de leve. - A cidade está vazia. Mas então você não aceitou? Está indo discutir termos com Augustus?

Ela pareceu ficar um tanto incomodada com o fato de Barabbas ainda não ter aceitado a proposta, por algum motivo por Barabbas desconhecido.

Estavam saindo da cidade com o carro naquele exato instante. Se embrenhavam na mata, as altas árvores se erguerdo em torno e até sobre eles- forçando Dahlia a ligar os faróis do veículo para ver o caminho.

- Eu não disse que não tinha aceitado. Também não disse que sim.

Barabbas já estava se cansando daquela conversa. Ele olhou para o lado e abriu o vidro, deixando entrar um pouco do ar frio da floresta e sentindo os cheiros inéditos e tão próprios do ambiente. Com a nova onda de sensações, não pode deixar de sorrir. Era gostoso poder ver aquele cenário paradisíaco. Tantas possibilidades, tantos lugares para amarrar vítimas, e o melhor de tudo é que por mais que as vítimas gritassem, a polícia não apareceria.

Barabbas voltou a olhar para a moça que mostrava-se levemente descontente.

- Algo lhe aflinge?

Não, Barabbas não era nenhuma alma caridosa que se preocupava com o que as pessoas sentiam. Ele procurava saber pois isso era parte de seu estudo. Afinal, matar um completo desconhecido não tinha a mesma graça de alguém que você conhece o passado, a história, os sonhos, os amores ... e ver tudo esvair-se para o vazio sem fim da escuridão.

- Não é nada... - Mentia, obviamente. Parecia não querer falar sobre este assunto.

Ficou quieta, um pouco desconfortável. Logo, fizeram uma curva para fora da estrada para um caminho estranho, por entre as árvores. Embora não houvesse indicação alguma de caminho- nenhuma estrada, tirlha nem nada que Barabbas conseguisse notar, ela seguia um caminho bem definido, como se seguisse uma estrada normal.

- Você dirige muito bem. Com quem aprendeu?

Barabbas quebrou o silêncio desconfortante. Não para ele, claro. Por ele o silêncio continuaria, mas isso afastaria a garota. Então ele puxou assunto para confortá-la e fazê-la entregar mais informações a respeito de sua vida. Cada mero detalhe era importante para Barabbas.

- Com Augustus, alguns anos atrás. Ele era bom, sempre gostou de carros. Mas faz tempo que não dirige nada. Anda muito ocupado.

Após se embrenhar por entre as árvores mais um pouco, a van entrou novamente numa trilha de terra. Esta se estendia por um longo caminho até algo distante- uma mansão- com todas suas luzes acesas. Era decerto incrível como nãose vi algo tão luminoso da cidade.

Barabbas agora pensava em outros assuntos. Ele vislumbrava-se com a visão da mansão com todas as suas luzes acesas. Então, a pergunta mais óbvia veio à sua mente. Mas para proferir tal pergunta, ele primeiro haveria de introduzir o assunto.

- Então ... vocês moram dentro da floresta, além da estrada conhecida, praticamente perto das terras de Mordor. Vejo que existe luz, acredito que exista água encanada e talvez até conexão com internet. Mas como, pelo amor dos vermes que hão de comer minha carne, os técnicos conseguem chegar aqui? Fico imaginando como o carteiro faz para trazer correspondência. Ele deve ganhar aumento por insalubridade e periculosidade.