Que a Justiça seja feita [Coruja]

Ouvira dizer que um grande grupo recém-formado de mercenários se unira pouco tempo atrás à um bando nômade de Orcs e estava aterrorizando a área em torno da cidade de Rahkburg. Dignos de asco, estes bandos inescrupulosos também eram famosos por não serem fáceis de se encontrar. Em outras palavras, também eram covardes. Para pôr um fim nas atividades destes, nada melhor do que ir até Rahkburg colher informações.

Quando chegou à cidade, o sol já terminava de se por no horizonte e, cansado da viagem, mas ainda ativo na sua busca, Amon-Rá prontificou-se à entrar na primeira taverna movimentada que encontrou.

Lá dentro, o movimento era sem dúvida grande. Um sujeito encapuzado entrara no lugar alguns instantes antes de si e aparentemente procurava um lugar para sentar-se. Próximo à porta onde estava agora, uma grande mesa estavarodeada de nobre humanos bêbados e sujos, que cantavam, berravam e riam, como porcos, dando trabalho e preocupando a taverneira e os trabalhadores do local. Os outros grupos de humanos que ali estavam também não pareciam sentir-se muito à vontade.

Mais no fundo, notou duas figuras diferentes: um outro homem que escondia seu rosto, sentava sozinho numa mesa afastada. Numa mesa imediatamente adjacente à deste homem estava sentado, também sozinho, um anão, aparentemente confuso. Amon-Rá supreendeu-se ao ver mais um ser misterioso, com sua face escondida sob pano, sentado ao balcão.

Se era informação que queria, ali era com certeza um bom lugar para obtê-la.

Se era informação o que Amón-Ra queria, então seria com a taverneira. Nenhum bêbado prestaria para passar informações confiáveis. A propósito, humanos eram seres estranhos. Tão nobres em suas origens, mas que insistiam em se reduzir a meros animais com comportamentos estranhos.

Dirigindo-se à taverneira, Amon limitou-se a cumprimentá-la e ir direto ao assunto.

- Boa noite, madame. Chamo-me Amón-Ra e estou no encalço de um grupo criminoso que anda atormentando esta cidade. Gostaria de saber se a senhora tem alguma informação a respeito deste grupo, ou se poderia indicar alguém que poderia me informar o que preciso.

- Boa noite, senhor... Peço desculpas, mas eu não sei nada sobre grupos criminosos... Sei que há muitos deles que atormentam os vilarejos da região, mas Rahkburg raramente é alvo deles, graças à nossa guarda. Creio que a guarda local possa te informar melhor. Talvez você devesse procurar pelo capitão ao amanhecer.

Assim que a jovem terminou de falar, um dos tais humanos embriagados começou a gritar de certa forma indelicadamente, para que fossa atendido às pressas.

Amón-Ra agradeceu a informação dobrando brevemente a cabeça à frente, num gesto de respeito, mas sem submissão. Sabia que estava sem dinheiro, e por isso não poderia arcar com despesas em estabelecimentos. Precisava de mais uma informação, para saber onde passar a noite, mas sabia que não tinha o direito de manter cativa a atenção da taverneira quando ele não estava pagando por nada e haviam clientes requisitando atenção. Desta forma, apenas ignorando os 'nobres' bêbados, despediu-se da taverneira e procurou uma mesa com alguém de aparência confiável (sim, julgando pelas aparências).

- Com liscença, meu bom senhor. Desculpe importuná-lo. Poderia me dizer se na cidade existem alojamentos públicos gratuitos?

Aquilo poderia ser comum em sua cidade natal, mas aquela era outra raça. Provavelmente teriam outros costumes.

Você se senta numa mesa na qual um homem, aparentemente um guarda ou coisa parecida, bebe algo sozinho. Ele parece um pouco surpreso ao te ver, mas não parece reagir muito.

- Que eu saiba, gratuito só tem os albergues, que você pode tentar. Mas a essa altura já devem estar lotados. - dito isso, ele tomou um gole de sua caneca.

Amón-Ra reverenciou o suposto guarda da mesma forma que o fez com a taverneira: com respeito, mas sem submissão.

- Obrigado pela sua informação, cavalheiro. Que a ordem e a justiça lhe acompanhem pelo resto de sua vida.

Dito isto, nada mais tinha para fazer naquele lugar, além de procurar um lugar para dormir. Contudo, logo precisaria comer, e aquela situação monetária estava deixando Amón em maus lençóis. Afinal, até mesmo a ordem precisava de recursos para ser mantida. Amón seria obrigado a procurar algum "serviço" extra. Quem sabe na taverna não existisse algum panfleto, ou coisa que o valha?

Pensando assim, antes de encerrar sua noite, Amon procuraria por ofertas de pequenos serviços.

O Juban partiu em buca do tal albergue. Aparentemente, este albergue era ligado ao posto militar da guarda da cidade. Graças à isso, também seria fácil a busca pelo capitão da guarda caso ele quisesse informações. Com as direções obtidas na taverna, ele partiu em direção ao tal albergue.

Amon-Rá lembrava ter ouvido que a cidade estava se tornando extremamente perigosa à noite, com um índice de sequestros, roubos e assassinatos crescendo exponencialmente.

Chegou numa construção de pedra razoável, com grandes portões de ferro. Aquilo provavelmente era a entrada ao quartel-general da guarda local.

- Quem está aí? - perguntou uma voz do alto. Amon-rá olhou para cima e viu um guarda que tomava conta dos portões do andar da cima. - Você por acaso veio pelo albergue?

Com a voz grave de leão, Amon dirige-se ao soldado que o indagava.

- Sou Amón-Ra, do reino de Thundera. Vejo em longa viagem para nobre missão de purificação dos males que afligem esta cidade e os arredores! Peço abrigo para passar a noite, pois mesmo a justiça precisa descançar de tempos em tempos.

- Está com sorte, senhor Juban. - respondeu o guarda, e Amon-rá sentiu ter notado um sorriso no rosto do homem, através da escuridão. - Hoje o albergue está estranhamente vazio. Normalmente não haveria espaço para o senhor à essa hora.

Dito isso, o homem rapidamente desceu de andar e abriu os portões para dar entrada ao paladino.

- Só siga este corredor e você chegará aos aposentos comunitários. - disse o guarda, indicando um caminho.

A sala em que estava era pequena, mas aquilo aparentemente era somente um hall de entrada ou coisa parecida. Havia uma escada ali, que provavelmente levava ao posto de vigia que o homem ocupava há instantes, um porta, que Amon-rá não fazia idéia de para onde levava e um corredor, que, de acordo com o guarda, levaria ao albergue.

Amon adentrou o lugar com um leve sorriso de satisfação no rosto. Um bom descanço numa cama de campanha lhe faria bem. Melhor ainda seria retirar aquela armadura que comprimia os pêlos de seu corpo. Ele agradeceu o guarda com um aceno de cabeça e prosseguiu.

Justo, ordeiro, leal ... tanto por ser Juban quanto por ser Paladino. Amon seguira o corredor firme, sem nem desviar o olhar para os lados. Nem lhe interessava, como também não era da sua conta as outras portas. Ele era grato pela hospedagem e retribuía a gentileza com um caminho de retidão e confiança. Apenas sonhava com a possibilidade de tomar um banho antes de dormir. Se não fosse possível, ele compreenderia.

Ao fim do corredor, chegou à um grande salão, realmente imenso, lotado de camas e esteiras no chão para abrigar a todos. Ali dormindo, haviam dezenas de pessoas de todos os tipos, desde mulheres, janes e idosas, crianças e homens, não só humanos também, haviam alguns anões, tailoxes e algum ou outro da raça de Amon-rá.

Assim que chegou ao local, foi abbordado por um guarda.

- O senhor não gostaria de deixar seu equipamento comigo? - ele disse, parecia um pouco preocupado. - Tanto pela segurança dos outro quanto pela do próprio equipamento.

Amon suspeitou por um segundo das intenções do guarda, mas logo esvaneceu suas dúvidas ao perceber que todos os outros também haviam deixado seus pertences, ie, armas. De fato, era melhor ter um dormitório desarmado. Assim sendo, com um leve sorriso no rosto, Amon entregou sua espada e sua armadura ao homem.

- Você se importaria de me ajudar a tirar as fivelas da armadura?

Perguntou ao guarda, visto que tirar a armadura sozinho era possível, mas trabalhoso.

Sozinho ou com ajuda, uma vez livre da armadura, Amon escolheria uma cama qualquer e sentaria-se nela. Antes de dormir, ele repassaria os votos de lealdade à justiça. Sabia que a vida terrena pregava peças e apenas uma vida de retidão seria capaz de superar as adversidades sem cair nas tentações.

- Ah, claro, senhor.

O guarda prontamente ajudou o Juban a despir-se da armadura pesada.

- Espero que possa apreciar de uma boa noite de sono. O toque de despertar é soado às sete horas. Boa noite, senhor. - disse o homem, antes de se recolher.

Amon-Rá fielmente fez suas orações e preces, seus votos de lealdade ao caminho correto e leal, antes de deitar-se. Ouvia, de algum lugar próximo, uma espécie de lamúrio baixo, como um choro contido.

Ouviu, de uma cama próxima à sua, uma voz em protesto.

"Faça silêncio de uma vez! Estamos tentando dormir! Se quer chorar, faça isso lá fora!"

"M-me desculpe, vou ficar quieta...", respondeu, envergonhada, a jovem que chorava.

Amon estava cansado. Seu rosto até poderia transparecer isso, mas a vontade de ferro do homem determianva até a imagem que os outros veriam. E, naquele momento, havia alguém precisando de suporte.

Respirando fundo, Amon levantou-se de sua cama e dirigiu-se para a cama da jovem que chorava. Ajoelhando-se diante da cama, trazendo um sorriso sereno ao rosto, ele perguntou com a voz mais baixa e suave que conseguiu.

- O que lhe aflinge, senhorita?

(( Quantos anos, aproximadamente, e de que raça ela é? Enfim, mais detalhes ^_^ ))

A jovem humana, que parecia cerca de dezesseis anos, parou de soluçar e olhou, um tanto confusa, para Amon-rá, revelando os traços singelos e limpos que compunham sua face quase angelical. Ela tirou os cabelos loiros claros, tão claros que pareciam brancos ao luar, da frente de seus olhos harmoniosamente límpidos, de um azul resplandescente como o céu num dia claro.

A menina metaforicamente bela hesitou por alguns instantes em falar com Amon-rá, mas, aparentemente movida pelo sorriso do mesmo, acabou por contar sua história.

- E-eu vim para cá, para Rahkburg, - ela falava o mais baixo possível, para não incomodar os outros. - com meu irmão mais novo. Ele tem só cinco anos. Estava andando com meu irmão pela cidade, vindo para cá, quando um par de homens grandes vieram, e tentaram nos levar embora....

Aparentemente movida pelas lembranças que repassava, ela voltou a soluçar, mas tentou não parar de falar.

- Eu consegui fugir... mas meu irmão ficou lá... Eu vim pedir ajuda para os guardas, mas eles disseram que não podem fazer nada! - ela parecia desesperada. Talvez o medo fizera ela fugir na hora, mas agora se arrependa de ter abandonado seu irmão. Ou talvez ela planejasse depender da guarda que negou ajudá-la num momento de necessidade. De uma forma ou de outra, ela precisava de uma mãozinha.

Amon não demonstrava nada no exterior do que sentia por dentro. Afinal, a menina não devia ver a ira crescente que o Juban sentia das injustiças e dos descasos que aquela conturbada raça humana cultivava. Tão belos e com tanto potencial ... mas que morriam naquilo. Era puro potencial e nada mais. Salvo raras exceções, o potencial daquela raça era desperdiçado.

Respirando fundo, Amon não sorriu, mas manteve um olhar sereno para confortar a menina. Limitou-se a trazer seu corpo mais próximo e abraça-la, dando seu apoio, e então sussurrou pequenas palavras.

- Não se preocupe. Eu lhe ajudarei a encontrar seu irmão. Preciso somente de duas coisas: mais informações e uma noite de sono.

Ele se afastou da garota, segurando em seus ombros e, olhando fundo em seus olhos, continuou.

- Quando exatamente foi a última vez que você teve contato com seu irmão. E será que você seria capaz de reconhecer alguém que faça parte do grupo que o levou? Talvez você tenha visto algum símbolo, alguma tatuagem de clã, ou algo que o valha?

- A última vez foi agora há pouco... só umas horas atrás. - ela parecia ter um pouco de dificuldades em lembrar do ocorrido. - Não me lembro de nenhum símbolo nem nada... a única coisa que me lembro era de ouví-los falando alguma coisa sobre um tal de Escorpião, como se fosse o líder deles. Quando perguntei dele para os guardas, eles me mandaram embora...

Ela parou um pouco de falar para respirar fundo.

- É fácil reconhecer o cara que levou meu irmão, ele era um Juban que nem o senhor e tinha uma cicatriz imensa na cara, que ia daqui - ela apontou um ponto da testa, e desceu o dedo até o queixo - até aqui.

- Um ... Juban?

Amon estava chocado. Ele não esperava por aquela. Como assim um Juban participando de sequestros? Isso não entrava em sua mente. O choque foi tão grande que eliminou seu sono. Amon não queria mais a cama de campanha. Ele queria tirar a limpo aquela história. Decidiu-se por fim a agir imediatamente.

- Volte a dormir ... eu vou procurar seu irmão.

Dito isto, Amon levantou-se e afastou-se da garota, dirigindo-se para o guarda que o atendera anteriormente.

- Desculpe-me, senhor, todos os importúnios, mas chegou aos meus ouvidos um caso que não pode esperar o dia amanhecer. Necessito de meus pertences imediatamente.

Sua voz saiu firme e decidida, ainda que em tom baixo e calmo, visto que o guarda nada tinha a ver com a situação da garota ... e do outro juban.

- Sim, imediatamente, senhor. - respondeu, prontamente, o guarda.

Em questão de instantes, ele retornara com a armadura e o equipamento de Amon.

- Aqui está. Não devo me intrometer nos assuntos alehios, mas tome cuidado, sim? Não precisamos de mais gente civilizada como o senhor morrendo. - ele comentou, assaz preocupado. - Deseja ajuda para com sua armadura?

- Certamente. A armadura é mesmo difícil de colocar e tirar. E obrigado por sua preocupação, mas minha saúde não é a coisa mais importante no momento.

Amon vestiu-se mais rápido do que se vestiria sozinho, graças à ajuda do guarda, guardou a espada na bainha, e disse por fim antes de partir.

- Provavelmente eu não retornarei esta noite. Contudo, se for da graça dos deuses, trarei comigo uma criança de tua raça para receber abrigo. Sem mais, devo partir.

E assim dito, assim feito. Amon saiu porta afora, procurando seguir as pistas ditas pela garota sobre onde ela se perdera do irmão na emboscada. Nada melhor que o marco zero para começar a investigação.

Seguindo algumas vagas direções que a garota lhe dera, Amon saiu pelas ruas perseguindo o rastro de um garoto que nunca vira na vida.

Encontrou, entre uma loja de um ferreiro no momento fechada e uma casinha simples, um beco. Pelo que a jovem dissera, era para lá que haviam tentado levá-la.

Entrou no beco. Estava escuro, mas ainda podia ver bem o suficiente. Não havia muita coisa ali, um lixo jogado em um canto, sujeira em outro...

Só uma coisa chamava atenção ali: haiva uma adaga derrubada no chão, reluzindo fraca a luz do luar que caía levemente sobre sua lâmina afiada.
Chegando mais perto, deu-se conta do valor da mesma. Aparentemente, se tratava de prata com pureza razoável. Sobretudo, a empunhadura da arma era extremamente bem trabalhada: encrustada com uma pequena gema, inclusive.

No exato instante em que Amon-Rá se aproximou para ver a adaga melhor, ouviu o som de vidro se quebrando vindo de um caminho bifrucado à sua frente. Viu um homem, aparentemente assustado com sua presença inesperada, derrubara uma garrafa que estava largada no chão.

Ao ser descoberto, o homem começou a correr desesperadamente para longe de Amon.

Sem muito tempo de meditar sobre o assunto, Amon limita-se a duas ações: pegar a adaga e correr atrás do homem. Amon sabia que pegar a adaga lhe atrasaria alguns segundos preciosos, mas era preciso. Era, talvez, a única pista que tinha do paradeiro do guri ... e do outro.

(( Sempre que eu ou Amon se referir a esse outro, é o Juban com a cicatriz. Afinal, este é o principal fator motivador de Amon. E agora a tecnologia de OOC do Myth Weaver teria sido muito bem vinda ^_^ ))

Enquanto perseguia o homem, que provavelmente era um simples mendigo, sempre que fazia contato visual com ele Amon tentava gritar.

- Pare!
- Espere!
- Quero falar apenas!
- Não lhe farei mal!

[Eu entendo que seria útil. Será realmente bom se ao migrarmos de plataforma (de acordo com o Allian o processo está indo bem até, aparentemente), nós conseguirmos implementar ferramentas apra uso nas mesas, como o OOC, private message, rolls avançados e etc. e tal]

O homem, mesmo com os gritos de Amon, não reduzia a velocidade. Corria mais, na verdade.

No entanto, ele não tinha a menor chance contra um Juban: aquele tipo de atividade era seu forte. Em questão de minutos, ele alcançou o homem, que, desesperado, virou-se e avançou contra o Juban.

Por sorte, o desespero do ataque tornou-o ineficiente, e o paladino facilmente esquivou-se.

- Me deixe em paz, maldito! - Bradou o homem, que obviamente não era um mendigo. - Não tenho nada a dizer para você!

O homem tentara um ataque, verdade, mas isso ainda não fazia dele um ser do mal. Apenas alguem tentando se defender. Amon deveria encontrar outra forma de entrar em contato com ele. Posicionando-se de forma ereta, totalmente contrária ao combate, Amon insiste em sua mais pura expressão social.

- Acalme-se senhor. Deve estar me confundindo com alguém. Insisto que se acalme para conversarmos ...

Aquela seria a última tentativa pacífica de Amon. Afinal, estava lutando contra o tempo.

- Não estou te confundindo com ninguém por que não faço idéia de quem é! - ele respondeu, ríspido. - Diga quem és!

O homem não saiu de sua posição de combate, muito menos guardou sua adaga.