Pouco tempo, muito oque fazer [Cap. 3 - Barabbas]

Barabbas olhou para a porta levantando uma sobrancelha.

- Um segundo ...

Ele se vestiu o mais rápido que pôde. A mesma roupa, claro, pois não havia roupa diferente. Equipou-se novamente de suas armas, tanto a de fogo quanto as duas armas brancas. Não tinha planos de usá-las, mas queria que elas estivesse por perto quando fosse o momento de usar.

Dirigiu-se à porta e abriu.

Uma jovem empregada de longos cabelos loiros estava defronte a Barabbas.

- Com licença, senhor Christ? - Ela indagou, com uma voz suave e um tanto inocente. - Sr. Frederik deseja falar-lhe em seus aposentos. Queira me acompanhar até lá, por favor.

Ela virou-se e começou a andar vagarosamente. Parecia dirigir-se à sala de jantar.

- Certamente.

Barabbas já esperava por isto. Ele não temia o encontro com o anfitrião. Apenas meditava sobre o que fazer a respeito de Jason a de Luana. O segredo de Jason era uma carta de uso único, e Barabba não estava certo quanto ao resultado. Um segredo valia muito mais que a verdade. Mas um segredo de nada valeria se Barabbas não obtivesse o fruto de seu desejo. Ele apenas queria outra chance de conversar a sós com Luana, mas duvidava que isto fosse acontecer.

Barabbas meditava em seus devaneios enquanto seguia a empregada pelo caminho já conhecido. Apenas despertaria de seus devaneios quando adentrasse algum cômodo novo, ou quando percebesse a presença do anfitrião, o Sr Frederik.

Após atravessar a sala de jantar que já conhecia, deparou-se com uma grande porta, logo atrás do assento onde o Sr. Frederik havia se acomodado durante a ceia. Atravessando-a, encontrou-se numa passagem em T, no qual podia ver, no fim de um corredor longo, uma porta.

- Siga este corredor até o fim. Aquela porta leva aos aposentos do Sr. Frederik. - A jovem empregada terminou de passar instruções. - Bata na porta e espere ser convidado.

Dito isso, a jovem se retirou, deixando Barabbas livre para fazer oque bem entendesse. O corredor à sua frente era deveras longo e um tanto estreito. A pintura da parede era em um tom salmão escuro que, se somado às lâmpadas incadescentes que iluminavam-no, deixavam o ambiente quente e abafado.

Barabbas esperou a mulher sair completamente de sua presença e fechar a porta. E então ele dirigiu-se em direção à porta alvo, a porta relativa ao aposento do Sr Frederik. Barabbas tocou as paredes do corredor com os dedos indicadores numa forma de seguir o caminho não apenas com sua visão, mas também com o tato.

Ao chegar à porta, Barabbas bateu suavemente dois toques seguidos, e aguardou ser chamado, para então entrar.

Barabbas pôde ouvir vozes do interior da sala, a voz de uma mulher, mas não reconheceu-a como sendo nem de Dahlia, muito menos de Luana. De repente, a porta à sua frente emitiu uns pesados e fortes sons de metal, como se algum mecanismo interno estivesse em funcionamento.

Então, veio uma voz, que Barabbas reconheceu como sendo a do próprio anfitrião:

- Está aberta, entre.

Barabbas abriu a porta suavemente, como se esta fosse alguma outra porta qualquer. Ele procurava sentir o peso, a resistência que a porta oferecia para ser aberta. Que barulhos de metal eram aqueles? Barabbas duvidava que fosse uma simples barra bloquando a porta.

- Sr Frederik ...

Ele apresentou-se, olhando de relance para o cômodo inteiro, buscando reconhecer as figuras humanas (ou melhor, os seres vivos e os não-tão-vivos) presentes.

Barabbas notou instantaneamente a semelhança intencional ou não, daquela sala com uma sala de trono dos castelos da idade média. Sua forma retangular dava ênfase à imponência da pessoa que ficava na ponta contrária à porta. No caso, Sr. Frederik. A mesa do homem também se encontrava numa saliência no chão, em outro patamar, ressaltando a superioridade que este tinha sobre aqueles no andar inferior.

Sr. Frederik estava sentado atrás de uma escrivaninha um tanto grande, de madeira escura. Logo defronte à escrivaninha, haviam duas grandes poltronas de veludo vermelho, aparentemente confortáveis.

Em uma das duas estava sentado um homem. Ele parecia não ser muito jovem, mas também não muito velho. Não conseguia discernir a idade exata dele, parecia ter passado por muita coisa na vida, e isso ficava claro em sua face. Usava roupas de um cidadão comum, mas algo nele era estranho.

De pé, a poucos metros da porta, estava uma mulher, um tanto jovem, devia beirar os vinte anos, com os braços cruzados, olhando analítica para Barabbas. Um chute seguro seria dizer que ela era policial, já que vestia os trajes de um.

- Ah, vejo que chegou, senhor Christ. - O anfitirão disse, exibindo um largo sorriso no rosto. - Feche a porta e sente-se, por favor. Assim que os outros sobreviventes chegarem, nós poderemos falar do que importa. Você precisa de um esclarecimento sobre a situação atual da cidade ou já está a par das coisas? Qualquer dúvida, pergunte ao meu mais novo ajudante, este senhor aqui.

Ele completou, apontando ao homem que se sentava na poltrona. Assim que terminou de falar, voltou a debruçar-se sobre alguns papéis que estavam em sua mesa, e rabiscar aqui e ali periodicamente com uma caneta de pena.

Barabbas mirou uma vez mais o interior do ambiente antes de fechar a porta às suas costas. Andava resoluto, sem demonstrar a insegurança que sentia por dentro. Ele estava por demais dentro daquela mansão. Sair dalí não seria tarefa fácil. E principalmente, onde se encontravam Dahlia e seu irmão, o jovem Johan?

Barabbas caminhou até uma das duas poltronas de veludo vermelho e lá sentou-se. Só haviam duas poltronas, e uma delas estava ocupada por um homem que Barabbas não conhecia. Ele se perguntava onde sentariam-se Jason, o mentiroso, e Luana, a protegida. Aliás, Barabbas se perguntava o que Frederik faria à mãe de Jason, cujo nome lhe faltava na memória.

- Sr Frederik ... e os seis sobreviventes?

Barabbas perguntou finalmente, referindo-se não apenas ao núcleo do jornalista mentiroso, mas também às duas mulheres e um homem que Barabbas ajudou a levar para dentro da mansão, os que vieram na parte de trás da Van.

Assim que a porta foi fechada, Barabbas pôde ouvir novamente o alto som de mecanismos metálicos no interior da mesma.

A mulher acompanhou com os olhos todo mísero movimento do homem, cada vez mais suspeita.

Barabbas notou que o homem ao seu lado fez menção de dizer algo, mas acabara de interrompê-lo. O Sr. Frederik se adiantou a responder:

- Ah, creio que não esclareci muito bem a situação. - O Sr. Frederik disse, levantando a cabeça, com uma expressão um pouco confusa. - Não são apenas seis sobreviventes, mas sim dez. Vejamos: Jason, Luana, Margareth, Mark que jantaram conosco. Três que ainda não estão aqui. Nossos convidados que vieram para cá por conta própria. E o senhor também é um sobrevivente, senhor Christ.

O homem que Barabbas desconhecia então soltou um cumprimento bem informal:

- Oi! - ele disse, exibindo um sorriso.

Barabbas olha para o homem ao seu lado e desvia o olhar sem dizer nada. Sua atenção logo se concentrou em Frederik.

- Sobre Jason e Luana ... há algo que talvez o senhor precisasse saber ...

Diz ele, lançando um breve olhar para a possível policial.

- Prossiga, Christ. Oque tem a dizer sobre meus outros convidados? Nada mau, espero? - Sr. Frederik disse, curvando o corpo para frente, apoiado nos encostos de braço de sua cadeira.

(( Zan ... eu modifiquei completamente este post após sonhar com o novo post. Acredito que seja melhor assim. Desculpe os transtornos. A minha preferência é de que seja ignorado o post antigo e seja aceito apenas o post novo. Se por algum motivo você não permitir, veja que eu não apaguei o post velho. De qualquer forma, me diga no seu próximo post qual continuação você decidiu seguir. Valeu ^_^ ))

Post Antigo:

Post Novo:

[Algumas coisas:
1- Cara, tá de boa vc ter mudado o post. Não se preocupe. Até eu às vezes faço isso. Acrescentar detalhes, tirar palavras, trocar informações...;
2- Vou prosseguir como pediu, continuando do post novo;
3- Como você faz isso de deixar o spoiler com outra coisa escrita? Pode postar o código pra mim saber?]

O homem que estava sentado ao seu lado levantou-se e foi para perto da policial, começou a cochichar com ela. Felizmente, Barabbas conseguiu discenrir algumas palavras como "sobreviventes" e um nome: "Gustav".

O Sr. Frederik estava um pouco pensativo, provavelmente analisando oque havia sido lhe contado.

- Creio que o melhor caminho de execução seja questionar Jason e sua amiga o porque da mentira. Nada se obtêm da infidelidade, e a transparência é ideal. - Ele dizia, com um tom definitivamente sincero. - Embora veja oque poderia ganhar realizando seu plano, não vejo como estaríamos em posição melhor que eles, como mentirosos, se escondêssemos oque sabemos. Assim que chegarem aqui, lhes questionarei os motivos da mentira. Não se preocupe.

(( Sobre o código, basta dar um Quote no meu post e você vai ver o código XD Mas aqui vai para ficar mais fácil ^_^

Código:

[spoiler=Texto]Texto[/spoiler]

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))

Barabbas estava ficando frustrado com o caminhar dos eventos. Por que as coisas não poderiam ser mais fáceis para ele? Bem, a vida não era fácil. Nem a morte era tão fácil quanto as pessoas imaginam. Contudo, por mais que seu interior tivesse vontade de gritar, puxar o bisturi e cortar a garganta do homem, Barabbas mantinha-se impassível, sereno, com a mesma expressão de sempre, como se o mundo ao redor não o afetasse. Como se ele fosse uma alma etérea que nem ao mundo pertencia. Como se ele nem mesmo estivesse lá.

- Permita-me, senhor, esclarecer onde e como estaríamos em vantagem mantendo o segredo. Jason acredita ter enganado o senhor. Ele está certo de sua posição vantajosa. Uma pessoa na situação dele tende a ficar mais desleixada, tende a relaxar e a deixar passar outros detalhes de sua verdadeira natureza. Faça-o sentir-se em casa que cada vez mais ele se mostrará o que é de verdade. Agora, se você apontar em seu rosto sua primeira mentira, ele perceberá que não está lidando com qualquer um e maximizará seus cuidados com o que diz e faz. Veja que isto não quer dizer que ele será um 'garoto bonzinho'. Apenas que tomará medidas para não ser descoberto novamente. Por favor, senhor, siga meu conselho. Deixe o bobo pensar que é rei, e quando ele deslizar, poderemos saber suas reais intenções. Pois eu também não acreditei em uma palavra da desculpa esfarrapada que ele deu no almoço para livrar a própria pele, ainda que o senhor tenha sido piedoso.

O Sr. Frederik apenas observou Barabbas por alguns instantes, enquanto matutava sobre o que fazer em seguida. Pousou as mãos calmamente sobre sua mesa e proferiu sua decisão:

- Certo homem. Farei oque propões. Mas já aviso que não prolongarei muito este jogo, já deixo claro que isto não me agrada. - Tinha uma expressão um tanto confusa na face.

Nesse momento, o outro homem se aproximou, guiando a jovem policial com as mãos em seus ombros. Parou próximo à mesa do anfitrião. O Sr. Frederik simplesmente levantou os olhos e fixou-os nos do homem.

- Oque deseja, homem? - Indagou, áspero.

Barabbas apenas assentiu com a cabeça e sorriu. Nada mais precisava ser dito. Em verdade, quanto menos sua voz fosse escutada, melhor seria. Ele só gastaria os ouvidos de Frederik quando fosse realmente necessário. Desta forma, apenas aguardava a chegada dos demais.

O outro homem começou a falar:

- Quando você disse que somos os sobreviventes... Somos de fato os únicos que sobraram nessa cidade? - Ele indagou, claramente nervoso.

O Sr. Frederik pareceu um pouco confuso com a dúvida.

- É certo que não, meu jovem. - Ele respondeu, gesticulando como se explicasse algo para alguém um pouco debilitado mentalmente. - Chamamos vocês de "sobreviventes" para facilitar. Vocês forma selecionados para virem para cá pois travaram combate físico, suportaram cansaço mental e psicológico, passaram por enorme fadiga sem desistir nem morrer. Sobreviveram ao caos. Sobreviveram ao teste. Compreendeu agora? Existem mais pessoas vivas na cidade, espero eu, mas já pssuímos um número mais que adequado de candidatos aqui.

Barabbas continuava apenas esperando, impassível, invisível aos demais. Ele tentava deixar de existir na mente das pessoas, fazer com que eles se esquececem de sua presença. Ele apenas observava, sem dizer nenhuma palavra, e sem fazer nenhum movimento brusco. A mulher policial lhe chamara a atenção. O que ela seria? Por que estaria aqui? Visto que o carinha novo foi falar com ela para depois falar com Frederik, ela não deveria fazer parte do grupo da mansão, mas sim alguém que aquele homem trouxe consigo, como Luana para Jason. Bastava saber agora os nomes dos novos personagens daquela macabra experiência.

- É que... O pai dela está lá fora! - O homem disse, parecendo nervoso.

Virou-se para a mulher e instruiu:

- Tente contatar ele pelo rádio. O sinal pega daqui?

A jovem pegou um rádio que estava preso à sua cintura e levou-o ao rosto, afastando-se dos outros.

- Não posso prometer nada, garoto. - O Sr. Frederik disse, sério. - Não vou dizer que este homem está vivo, mas também vou confessar que é bem possível que ainda esteja vivo.

Esperando ... invisível ... esquecido.

- É... Pfff... A minha vida era mais fácil quando eu estava solitário! Odeio quando esse tipo de coisa acontece... - O homem disse, soando um tanto melancólico.

Barabbas sentiu, nesse momento, grande carga emocional contida nequele homem. Ele provavelmenet tinha vivido muito e sofrido muio também. Parecia que ele tomava qualquer partido, desde que fosse ganhar alguma coisa. Logo, o homem completou:

- Tem uma cervejinha? Ou algo mais fino?

Parecia falar com o Sr. Frederik, mas aquilo não era jeito de se tratar um anfitrião. Por sorte, o dono daquela casa parecia lidar de forma bem passiva com o desrespeito e informalidade excessiva.

- Ah, sim. Vou providecnair algo para os senhores. - Ele apertou uma espécie de campainha que havia em sua mesa, e, como aqueles sinos de recepção de hotéis, um som metálico agudo soou por algum tempo.

Dentro de alguns instantes, uma porta ao lado da mesa do Sr. Frderik, que Barbbas não havia notado antes, abriu-se e dela saíu um criada.

- Traga um vinho tinto da adega para nossos convidados, por favor. - O Sr. Frederik parecia tratar inclusive seus criado com respeito. - E depressa. - Mas era exigente ao mesmo tempo.

Esperando ... invisível ... esquecido ... observando.

O outro convidado parecia um pouco nervoso, de repente. Começou a falar, mais ainda um pouco hesitante:

- Sr. Frederik... Este vai ser um trabalho incrivelmente rico... Quer dizer... Perigoso! Eu espero que o salário valha a pena... Ninguém consegue matar Tréus utilizando-se apenas de boa vontade!

De repente, o Sr. Frederik ficou sério.

- Homem, não se apresse! - Ele disse, levantando-se da cadeira de repente, batendo a mão, agressivamente, com a palma da mão aberta, na mesa. - Você não sabe qual é o serviço, homem! E não ouse falar de meu cão novamente assim. Posso tê-lo usado e mandado para a morte, mas ele ainda têm valor.

O jovem religioso pôde ver um demônio no lugar do homem à sua frente, por um instante. Como se houvesse soltado todas as correntes e amarras que prendiam o verdadeiro Sr. Frderik, o homem pareceu descontrolado, o ódio mortal sendo emanado de seu corpo, a ira virulenta quase palpável em seus olhos. Mas logo se recompôs, voltado a ser o passivo homem que tomava desaforos sem grandes reações.

Era a primeira vez que Barabbas vira o lado violento e irado de seu anfitrião, e, por algum motivo, tinha certeza absoluta de que aquilo não era nem perto de quão terrível aquele homem poderia ser.

A jovem empregada tornou a entrar na sala, com uma bandeja de prata em suas mãos, sobre a qual haviam algumas taças e um par de garrafas de vinho.

- Trouxe duas garrafas do Casillero Del Diablo, senhor. - Ela disse, com um tom bem humilde. - Está bom?

O Sr. Frederik havia se afastado de sua mesa e , de costas para vocês, olhava através de uma grande janela na parede da sala. Ele assentiu;

- Ótima escolha. Por favor, sirva os convidados e deixe uma taça para mim sobre minha mesa.

A criada respousou uma taça sobre a mesa, e passou pelo lado de Barabbas, entrgou um taça ao outro convidado e outra à Mary, que ainda falava no rádio, à alguns passos de distância. Ela já fazia menção de ir embora, quando seu senhor interrompeu:

- Não está esqueçendo de ninguém, senhorita Julia? - Ele disse, sem ao menos virar-se. - Espero que não se repita.

A jovem olhou em volta um pouco confusa, e, ao ver Barabbas sentado logo ali à sua frente, espantou-se, como se não o houvesse visto anteriormente.

- Aqui, senhor. Perdoe-me por não servir-lhe antes. Isto não se repetirá. - disse a criada, entregando uma taça da bebida à Barabbas e se retirando em seguida.

Barabbas sorriu para a moça, educadamente, mas por dentro estava com uma ligeira raiva. Aquele gesto de Frederik e da empregada havia despertado sua figura das sombras para a luz.

"Obrigado." Disse ligeiramente, enquanto segurava a taça, sem levar ela aos lábios. Barabbas não iria beber. Bebida era para fracos que não aguentavam suportar a dor e o horror a realidade sóbrios. Além do mais, já havia bebido algo durante o almoço. Não iria exagerar. O exagero era o diabo. A vida comedida estava mais próxima de deus. Mas ... às vezes ... bem, às vezes ... (...)

Barabbas agora reiniciava seu processo de tornar-se oculto, invisível, imóvel, apenas observando.