Pouco tempo, muito oque fazer [Cap. 3 - Barabbas]

Barabbas procurava analisar agora a resposta do Sr Frederick. Estaria ele falando a verdade, ou estaria ele tentando despistar um segredo terrível? De qualquer forma, Barabbas mantería-se em silêncio.

Barabbas não viu na face do homem nenhum resquício de mentira. Percebeu com clareza, como se tivesse uma epifania, que ele não dizia inverdades.

- Alguém tem mais alguma pergunta? - O homem indagou, como se aquilo fosse um ultimato: "Se tem algo a dizer, é agora ou nunca." - Senão, vamos prosseguir para o estágio final de nossa conversa.

Barabbas continuou em silêncio. Mantinha-se imóvel em sua cadeira, em sua posição ergonômica. Poderia não ser muito confortável, as era a melhor posição para passar muito tempo sem se mecher.

O silêncio tomou conta da sala assim como fizer com Barabbas. Todos pareciam ou tão confusos ou tão decididos quanto o próprio.

- Já que ninugém tem nada mais a acrescentar, vamos à última parte de nossa negociação: as decisões. - Ele sorriu, sentado em sua poltrona. - Perguntarei à um de cada vez, e deverão dizer-me se aceitam trabalhar para mim por este presente ede imortalidade e bênção ou não. Começando por... Você.

Ele apontou na cara de Barabbas, sem se preocupar em ser rude. Aquele teatro todo estava chegando ao fim.

- Sim ... e não.

Barabbas foi tão simples quanto o apontar de dedo, mas também tão complexo quanto sua própria alma. Mas obviamente que tal resposta não poderia ficar sozinha, ou iria simplesmente despertar a ira do "imperador" Sr Frederick.

- Eu aceito sim trabalhar, mas devo manter minha condição humana, tal qual o senhor e sua filha Dahlia.

O "imperador" sorriu levemente, como se estivesse satisfeito, e, sem nenhum comentário, apontou para outro homem: Brian.

Barabbas não mudou sua feição. Não sorriu nem fechou a cara, nem se desesperou. Continuou impassível em suas emoções. Mas como ninguém é perfeito, sua única e pequena falha foi um lance de olhar para Dahlia, para ver como ela estava mais diretamente.

Dahlia parecia um pouco desconfortável, e devolvia o olhar para Barabbas, como se prestasse atenção nele.

Brian, que estava sendo interrogado agora pelo Sr. Frederik, simplesmente agitou a cabeça negativamente, recusando a oferta e serviço.

Ele novamente sorriu, e seguiu apontando para todos, cada vez mais rápido.

Numa situação mais simples, somente Barabbas havia aceitado a proposta e ainda assim, não por inteiro.

- Sinto - O anfitrião começou adizer, levantando-se de sua poltrona. - que minha proposta não foi do agrado de todos. Mas nada posso fazer. Meu filho Johan e meu empregado Claus irão escoltá-los até a saída. Peço que os sigam sem delongas.

Dito isso, tanto Claus qaunto Johan se adiantaram, passando pelo meio das pessas ali presentes, logo chegando à porta e abrindo-a. Os dois saíram. Os convidados que recusaram a oferta pareciam um pouco relutantes a deixarem a sala, por algum motivo.

Barabbas não se mexeu. Não se mexeria dalí. Ele poderia não servir para Frederick, mas Dahlia tinha alguns planos que talvez fossem do agrado de Barabbas. Ele já começava a achar a vida um pouco entediante. Matar aquele que dobrava a morte seria ... surreal. Ele não podia esperar por menos. Só tinha que confirmar uma última coisa com Dahlia. Mas esperaria Claus e Johan saírem.

O resto dos convidados se retirou, deixando na sala somente Barabbas, Dahlia e o Sr. Frederik, à sós.

O homem suspirou, olhou para Dahlia, chacoalhou a cabeça em reprovação silenciosa, por algum motivo que provavelmente só ele compreendera e andou lentamente até a porta que ficava ao lado de sua mesa.

- Logo regresso. Peço que não saia desta sala, caro Sr. Christ. Temos muito oque discutir.

Dito isso, ele passou pela porta, fechando-a atrás de si. Dahlia alnçou um olhar um tanto nervoso para Barabbas e logo se aproximou, fitando-o de cima a baixo.

- E agora, vê o porque de meus planos? - Ela dizia, com um tom um tanto arrogante.

Barabbas ignorou a pergunta da garota e lançou-lhe outra pergunta no lugar de uma resposta.

- Você sabe fazer tudo o que seu pai faz? Sabe fazer com que vivos virem mortos-vivos? Domina toda e qualquer técnica ou estudo para manter as partes mortas funcionando?

E então, após a pergunta, ele silenciou, aguardando pela resposta.

Ela engoliu em seco, dando um passo para trás. Aparentemente, Barabbas tinha atingido um ponto que ela não parecia querer tocar.

- ... Sei. - Ela mexia os olhos de um lado parar o outro. - Infelizmente, tive de aprender.

Barabbas sorriu. Diferentemente do que ela pensava, ele não achava aquilo ruim.

- Que bom. Porque se você não soubesse, eu não te ajudaria. Sem Frederick, seu irmão pereceria. E eu gostei do garoto.

Barabbas então se levantou e inclinou-se para Dahlia, a fim de dar um beijo na boca da garota. Ele de fato não temia o anfitrião.

A jovem pareceu confusa à princípio e hesitou, mas logo pareceu compreender algo e cooperou. Aproximou-se de Barabbas tocando seus lábios com os seus.

Rapidamente deu um passo atrás, virando o rosto, como se estivesse envergonhada. Apesar deste comportamento, Barabbas tinha certeza de que era só teatro.

- Agora ele estará sozinho, com nós dois, pode ser uma boa chance. - ela disse, sem se preocupar muito caso ele estivesse ali, próximo à porta ou não. - Embora um tanto precipitada.

- Fato ... mas acho que Johan deveria ter direito a opinião também. A não ser que você não confie no seu próprio irmão ...

Disse Barabbas, retirando o revolver do bolso e chegando novamente as balas.

Barabbas constatou que ainda possuía umas dez balas, logo, não teria de se preocupar tanto asism com a munição.

A garota fez uma cara amarrada.

- Não. Não confio em Johan pois ele não passa de um cachorrinho de meu pai, fazendo tudo oque lhe pede sem nunca questionar. - Ela então relaxou umpouco a expressão severa. - Mas também, dependendo do homem para sobreviver...

Barabbas deu de ombros. Matar era pecado, a menos que a morte tivesse algum significado. Afinal, o próprio deus já havia matado centenas de pessoas, por serem "inimigas" de seu povo. Frederick poderia ser considerado inimigo da ordem natural.

- Então, faremos o que você deseja. Mas apenas porque você assim o quer.

Ele disse, dando um passo à frente. Mas Barabbas não continuou. Ele parou e voltou a olhar para Dahlia.

- Não me traia, Dahlia. Se está pensando em o fazer, apenas diga agora e esquecemos tudo isso. Simples assim. Caso contrário, seguimos em frente.

- Está decidido, então. Vamos em frente... - Dahlia curvou-se para frente, de forma um tanto provocativa, aproximando os lábios dos de Barabbas mais uma vez, mas logo recuou e voltou para sua posição inicial, ao lado da mesa de seu pai.

O homem demorou a compreender porque ela havia recuado tão repentinamente, entanendendo o comportamento somente quando a porta novamente se abriu e o Sr. Frederik entrou novamente na sala. Agora ele carregava um volume imenso de papéis extremamente bem alinhados. Deveriam haver por volta de quinhentas folhas em suas mãos.

Andou até sua mesa com naturalidade, depositou os papéis na mesa sem tirar sequer uma página do alinhamento e, por fim, sentou-se novamente em sua poltrona.

- Sr. Christ, desculpe-me a demora. - Ele disse, num tom cordial. - Tam alguma dúvida antes de coeçarmos a discutir os termos do seu trabalho?

Barabbas sorriu de leve e deu um passo apenas em direção ao Sr Frederick.

- Sim ... apenas uma questão inacabada.

A mão repousava na arma dentro do bolso, alisando suavemente como quem o faria a um animalzinho de estimação.

- O que o senhor pensa de sua filha? Exatamente onde ela se encaixa no seu espetáculo?

Não ... Barabbas não fazia as coisas como era mandado. Ele fazia as coisas do seu jeito. E seu jeito era o de elucidar quase tudo antes de fazer alguma ação. Afinal, a morte, para ser bem aproveitada, necessitava de informação. Saber o que está morrendo ... saber o que está se perdendo para sempre no tempo e no esquecimento.

- Dahlia, minha filha? - Ele pareceu um pouco suspreso com aquela dúvida, que não tinha aparentemente nada a ver com o trabalho que Barabbas aceitara. - Ela serve de substituta para cuidar de seu irmão e de Claus quando eu não estou em condições.

Barabbas ascentiu com a cabeça, sem sorrir ou fechar a cara. E então continuou.

- Entendo. Desculpe minha intromissão, mas estou apenas tentando ajudar. O que mais o senhor pensa de sua filha? O senhor gosta dela? Ela é importante para o senhor? E, por fim, existe alguma distinção entre a importância dela e de Johan? Por favor, Sr Frederick, apenas responda às perguntas.

Barabbas falava o tempo inteiro com seu tom de voz inauterado, como quem perguntava algo banal. Mantinha-se calmo, tranquilo, mas tinha um ar de decisão em suas palavras.

- Não vejo como isso está relacionado à questão em paut,am as responderei em respeito à transparência. Dahlia é minha filha, mas ao mesmo tempo ela é uma empregada com altíssimas qualificações. Ela possui os conhecimentos epráticas médicas necessárias para trabalhar profissionalmente em qualque hospital de Nove Iorque ou Berlin. - Ele estava sendo sincero, pelo que Barabbas podia distinguir. - Eu ponho, sempre, as relações de trabalho antes da família. É um hábito necessário para pesssoas em um nível como o meu. Entre ela e Johan? Ambos são importantes para a sobrevivência da família Frederik: Johan será meu sucessor, já que morrerei daqui a um punhado de anos. Para impedir que ele comele a putrefar e cair aos pedaços, treinei sua irmã Dahlia para ser sua enfermeira e tratar de sua "saúde".

Barabbas balançou a cabeça positivamente e então olhou para Dahlia.

- Ainda quer prosseguir?

Simples e direto.

A jovem fixou os olhos nos de Barabbas e, com um olhar terrivelmente sério, respondeu tão simples e direta quanto o homem havia perguntado.

- Sim.

Sem mais delongas, Barabbas retirou a arma de seu bolso, apontou para o Sr Frederick, e puxou o gatilho. Seria tão rápido quanto possível, mas demorando o necessário para um tiro preciso.