Pouco tempo, muito oque fazer [Cap. 3 - Barabbas]

- Desculpe ter associado Treu à monstruosidade... Foi desnecessário. - O homem disse, um pouco arrependido. - Mas já faz tempo que vivo sem posses... Vagando de cidade em cidade... E foi assim que parei nessa encrenca toda! Eu estou com tanto medo quanto você...

O Sr. Frederik parecia concentrado em algo do lado de fora de sua janela, repondeu novamente sem virar-se:

- Já disse que não deveria falar sobre Treu assim. - Ele repreendeu, sério. - Também já disse que trataremos de negócios depois. Acrescento, agora: Não pense que você compreende oque penso, muito menos oque sinto.

Esperando ... observando ... esquecido ... invisível.

- Com todo respeito, Sr. Frederik, mas por que o Sr. precisa de guarda-costas então? - o homem virou a taça de vinho, bebendo de uma só vez todo seu conteúdo.

O Sr. Frederik virou-se. Mostrava em ser rosto um misto de ia e indignação.

- Preciso de um guarda-costas, mas não para proteger-me de minhas próprias criações! Mas para evitar que pessoas comuns interfiram com meu trabalho. - Ele toronou a olhar para fora da janela, novamenete virando as costas à vocês. - Onde raios estarão os outros...

Então, finalmente resolvendo sair de meu estado catacósmico, dirijo-me ao Sr Frederik, sem nem ao menos sair do lugar.

- Gostaria que eu fosse atrás dos demais? Ou prefere chamar um criado para a tarefa?

O outro convidado se levantou, como se ignorasse o que seu anfitrião dissera e foi conversar com a policial.

O Sr. Frederik pareceu estar em um pouco de dúvida quanto à proposta de Barabbas, mas por fim anunciou:

- Um criado é mais ideal para esta tarefa. Peço que simplesmente relaxe, senhor Christ. - Barabbas notou que o anfitrião o tratava de forma diferente à como tratava o outro convidado. Era mais formla, mais polido, mais respeitoso.

- Certamente.

Respondou o homem de sanidade questionável. De fato, havia uma diferença na forma de tratamento. Mas isso devia única e exclusivamente ao fato de Frederik ter notado que Barabbas era diferente dos demais. Ele era superior, escolhido por deus, praticamente. Talvez Frederik soubesse, de alguma forma, e também compartilhasse da mesma curiosidade mórbida pela morte e seus efeitos místicos. Ambos os cavalheiros realizaram suas próprias experiências. Nada mais natural que afinarem suas sintonias.

Barabbas ouviu batidas na porta. Calmamente, o anfitrião apertou um botão em sua mesa e a porta novamente emitiu os pesados e estrondosos ruídos metálicos. Ao fim destes, a porta foi aberta e entraram seis pessoa que Barabbas reconheceu como sendo Jason, sua mãe Margareth, a jovem Luana e os dois filhos do Sr. Frederik: Johan e Dahlia.

Johan fechou a porta atrás de si e se adiantou, junto com sua irmã, para a frente de sala, e se puseram ao lado da mesa de seu pai.

- Obrigado por trazer o restante dos sobreviventes, Johan. - disse o pai, olhando para o filho.

- Não fiz mais que minhas obrigações, pai. - Respondeu o menino cordailmente, como um cãozinho que responde ao dono quando lhe chamam.

- Estamos agora todos reunidos aqui. - Disse o Sr. Frederik, virando-se à sala, agora, passando os olhos por todos ali presentes. - Agora, a menos que alguém tenha algo a dizer, vamor prosseguir e contar porque vocês realmente estão aqui.

Barabbas repara que seis pessoas entraram, mas ele só reconhecia 5 delas. Quem seria o sexto integrante? Sacudindo a cabeça ligeiramente, o psicopata espantou os pensamentos que não eram pertinentes. Ele deveria se concentar no seu foco. Olhou fixamente para Luana enquanto esta adentrava o salão, o suficiente para que a garota percebesse que ele estava olhando para ela. E, no momento em que seus olhos se encontrassem, ele daria um leve sorriso para ela.

Ao final, apenas virou-se e esperou o Sr Frederick falar.

Assim que os olhos de Luana encontraram os de Barabbas, ele deu um belo sorriso para a moça, que logo deviou o olhar, assustada. Agora que podia ver melhor, Barabbas reconheceu o sexto integrante do grupo como sendo o homem que sentara próximo à Johan durante o jantar.

Dahlia abaixou um pouco e cochichou algo no ouvido de seu pai. O homem esboçou uma expressão de raiva, mas logo a conteve, sem idzer nada. Vendo que ninguém mais fazia menção de dizer nada, começou a falar:

- Vejo que ninugém tem nenhuma objeção nem nenhum cometário a fazer. - O Sr. Frederik prosseguiu com seu discurso. - Reuni todos vocês aqui com um intuito. Formar um grupo de pessoas para trabalharem para mim. E para me servir, quero somente a elite. Por isso, aproveitei o meu experimento para selecionar quem servia ou não para o posto de todos os habitantes da cidade.

Gotas de chuva começaram a bater pesadamente contra as janelas da sala. Parecia que outra tempestade estava se aproximando. Ao longe, um trovão retumbou, ecoando pela floresta e chegando até a mansão, fazendo o chão tremer.

- Quanto ao vosso salário, gostaria de fazer uma pequena demonstração. Johan? - Disse o anfitrião, pedindo a colaboração pronta de seu filho.

- Sim, senhor. - Respondeu o jovem, dando um passo à frente. Olhou para as pessoas ali presentes. Estava parado à meio metro de Barabbas. - Observem a dádiva que meu pai me concedeu.

Ele colocou sua mão em seu bolso e retirou de lá uma bela faca. A lâmina reluzia, a empunhadura era clara, trabalhada, com detalhes em alto relevo. Era da mais pura prata. Johan estendeu uma mão, segurando a faca na outra. Num rápido movimento, fez com que a lâmina veloz e cruelmente, mas de forma limpa, atravesasse a palma, saindo do outro lado. Nem uma gota de sangue saiu do ferimento.

O garoto nem sequer piscou.

- Me tornei um ser supremo. Superior. Sou um morto-vivo que mantêm consciência. Claus também está submetido às mesmas condições. - O garoto exibia um sorriso um tanto doentio, como realmente se sentisse bem com aquela verdade. - Isto é uma verdadeira dádiva!

- Obrigado, meu filho. - Disse o Sr. Frederik, fazendo um movimento com a mão, indicando para que o menino retornasse ao seu lugar. O Jovem prontamente atendeu, mas ainda mantinha o mesmo sorriso maníaco na face. - Exatamente como viram, o pagamento será a imortalidade. Interessante, não?

Neste exato instante, outro trovão repetiu a obra do anterior, retumbando no ar, a descarga elétrica emitindo um forte clarão que deixou Christ ofuscado por um par de segundos.

Barabbas procurou não demonstrar qualquer reação à demonstração de Johan, apesar de, por dentro, seu coração estar acelerado. Aquela criança ... aquela criatura ... aquela aberração. Ela ia contra tudo o que Barabbas sabia e acreditava. Um morto que andava! Que explicações haveriam para tal acontecimento? Talvez algo de errado no processo de morte. Talvez um banimento tanto do céu quanto do inferno. E que pecado extremo seria aquele para ser banido não só do céu, mas também do inferno? O próprio Barabbas não conseguia imaginar algo tão hediondo.l

Sim, a imortalidade parecia uma dádiva, mas isso não fez o psicopata esquecer da feição apática de Johan durante o almoço. Aquela 'dádiva' vinha com um preço, talvez até caro demais. Barabbas duvidava que o preço se limitasse à comida.

Enquanto se decidia se chamava a condição de Johan de dádiva ou maldição, Barabbas foi surpreendido pelo relâmpago. Instintivamente, levou um braço para tampar os olhos, mas foi tarde demais. Ele piscou umas duas ou três vezes e então sua vista voltou ao normal, mas não o seu humor. Se tinha algo que ele não gostava, era de ter seus sentidos alterados.

Barabbas não iria se pronunciar. Iria aguardar até que todos falassem. Ele ainda não havia decidido nada a respeito daquela situação.

Ninguém parecia querer, com aquele clima pesado e sombrio que se formara dentro da sala, deixando o ar pesado e a respiração difícil, se pronunciar.
Ninguém, tirando o homem que estava lá quando Barabbas entrou.

- Sr. Frederik? Posso ver a mão de Johan mais de perto? Já vi de tudo... Mas isso é foda!

- Claro. - respondeu o interloucutor. - Johan, mostre sua mão ao nosso convidado.

O garoto se aproximou do homem, e estendeu sua mão, para que este pudesse ver melhor o ferimento e o que provavelmente era mais interessante, a ausência de sangue.

Barabbas observava os acontecimentos sem se pronunciar. Ele mantinha agora seu foco na família estranha. Prestava atenção ao Sr Frederick, à garota Dahlia, ao jovem Johan, e ao criado Claus. Todo cuidado neste momento era pouco.

Além disso, Barabbas se perguntava se a mão de Johan iria regenerar. Aquilo explicava porque Johan não comia, nem mesmo Claus. Mas Barabbas não deixou de reparar que Frederick comia. Ele não era como Johan e Claus. Barabbas se perguntava o óbvio: se aquela imortalidade era tão boa quanto Frederick dizia ser, por que ele mesmo não a tomara para si?

Barabbas notou que oque Dahlia lhe contara tinha um forte fundo de verdade. Seu pai parecia ignorá-la, enquanto dava atenção à seu filho, tratando-o como um servo extremamente fiel e confiável.

O jovem ainda estava mostrando a mão transpassada para o outro homem, como se fosse normal. Não parecia sentir nenhuma dor. Não notou nada de errado com o garoto. Quais seriam as contrapartidas daquela imortalidade? Porque o próprio senhor da casa não desfrutava dela? Essas dúvidas atormentavam a mente de Barabbas, quando uma voz cortou seus pensamentos.

- Uau... Essa porra não dói não? E como funciona cicatrização? - Disse o homem, curioso, já visivelmente excitado com aquilo.

- Não sinto nada além de um pouco de pressão causada pela lâmina entre a carne. Quanto à cicatrização, já é um pouco mais complicada e lenta. Eu posso não sentir, mas se meu braço estiver quebrado, não conseguirei usá-lo, e ele só se regenerará com o tempo. E bem lentamente. - Respondeu o garoto. - Esse corte provavelmente vai levar uns dois dias pra cicatrizar e não vou poder usar essa mão direito.

E eis que quando o mundo lhe fecha as portas, Deus lhe abre uma janela.

A voz da Gran-Madre, vinda de um passado distante, soou clara na mente de Barabbas. Então, o que se quebrava, ficava quebrado por um bom tempo. Isso era um ponto a favor de Barabbas. Aquelas criaturas poderiam então morrer de novo. Ao menos ser destruídas a tal ponto que a própria existência de Barabbas não seria suficiente para regenerar. E ainda: o que aconteceria se aqueles corpos pegassem fogo? Barabbas começava a excitar-se com os acontecimentos, mas por motivos totalmente diferentes dos que Brian demonstrava ter. Barabbas queria proceder seus experimentos de morte com aquelas criaturas facinantes. Mas todo cuidado seria pouco. Claus não seria nada fácil de dominar. Além disso, o próprio garoto Johan já demonstrara várias vezes que os dons não se limitavam à imortalidade. Ele era muito forte ... e possivelmente rápido também. A pergunta na mente de Barabbas era: como proceder?

[Eu já tinha dito o nome dele...? xD Não que seja um segredo quem ele é, ou que faça muita diferença, mas só pra saber se estou ficando com Alzheimer ou ainda não]

- Uau... o salário que te livra de salários... Impressionante. - Brian fez um comentário um pouco perdido, mas Barabbas sentiu ter compreendido sua essência. Ele então sorriu de leve, zombeteiro, e completou. - Eu poderei beber cerveja?

A expressão do garoto fechou, como um céu limpo e azul, num belo dia ensolarado que de repente escurece, dando lugar à nuvens tempestuosas e iradas, que anuncaivam o casitgo que estava por vir.

O garoto instintivamente puxou a faca para fora de sua mão com a outra, emitindo sons um pouco asquerosos e, num movimento pouco planejado, parecia que ia decaptar o homem à sua frente.

A faca cessou movimento encostada no pescoço de Brian. A expressão do garoto estava entre as coisas mais medonhas que Barabbas já vira em sua vida conturbada: seus olhos arregalados estavam quase saltando de suas órbitas, quase todos os músculos da face do moleque estava contraídos, fazendo com que quase não se distinguisse nada do rosto dele, além de seus olhos ameaçadores e seus lábios que diziam, violentamente:

- Não. Não poderá comer NADA! - Johan deu um berro ao dizer a última palavra. Parecia que de todos os preços, este fora o que o jovem dera mais valor.

- Johan! - Disse o Sr. Frederick, com um tom autoritário. - Controle-se! Ou devo pedir para que se retire?

- Não, senhor. - Ele desencontou, tão violentamente quanto encostou, a faca do pescoço de Brian, que tremia. - Já estou calmo.

A expressão do garoto já havia retornado, em sua maior parte, para seu estado normal. Ele retornou ao lugar onde estava antes.

A policial se aproximou de Brian apressadamente e, aparentemente preocupada, cochichou algo para ele.

Barabbas notou também que Jason e seu grupo estavam apreensivos. A jovem Luana segurava fortemente o braço de seu "marido" ou "noivo".

Barabbas finalmente resolveu falar. Ele procurava escolher as palavras para conseguir exatamente as informações que queria, sem despertar a ira de Johan ou de Frederick.

- Fascinante, jovem Johan. Você demonstra um grande controle sobre seus movimentos e sobre suas emoções também. Se tivesse mesmo perdido controle, não teria hesitado em cortar a cabeça do homem. Acredito que seu pai tenha lhe ensinado bem e você, filho exemplar que é, aprendeu tudo direitinho. Contudo, fico triste ao ver as limitações às quais você está submetido. Diga-me, que mais você não pode fazer? Ou o que você é obrigado a fazer para manter sua condição ... ?

- Sr. Frederik... - ele disse, rapidamente, antes de Barabbas conseguir falar. - Não tenho mais perguntas... Aliás... Tenho uma... Acabou o vinho?

O anfitrião olhou para ele e pareceu ignorá-lo. Barabbas então fez sua pergunta, antes que fosse interrompido novamente. O garoto Johan virou-se para ele e, consternado, repondeu.

- Vou tomar isso como um elogio... - ELe disse, um pouco receoso. - Existem mais pontos positivos do que negativos. Poucas limitações: Não posso ingerir alimentos- meu corpo não digere mais nada, seria como jogar comida dentro de um saco- nada aconteceria à ela. Meus ferimento não cicatrizam pela coagulação, natural, mas há outras formas um pouco mais lentas para curar-me. Fora isso, só tenho de tomar cuidado com algumas coisas específicas e pronto.

- Mas que coisas específicas seriam essas? Se vamos comprar esta realidade, gostaria de saber todos os inconvenientes. Afinal, os ganhos já são claros os suficiente.

Barabbas procurava manter seu tom de voz inauterado. Procurava fazer uma pergunta simples e direta, como quem estaria interessado na resposta apenas para si mesmo.

Brian começou a cochichar com a policial que se aproximara. Enquanto isso, Johan continuou a explicar suas condições, embora parecesse um pouco evasivo.

- Temos que tomar cuidado com o fogo, por exemplo. Corpos mortos pegam fogo com facilidade e mesmo uma exposição curta ao calor intenso pode enrijecer os músculos repentinamente, atrapalhando o movimento. - Ele respirou fundo. - Outro ponto ruim é que precisamos manter uma rotina diária de exercícios. Rigor Mortis afeta até mesmo corpos animados, embora à uma taxa bem mais lenta. Os exercícios puxados diminuem, até cancelam, o efeito deste mal.

Barabbas acenou com a cabeça positivamente.

- Entendo. De fato, são muitas as inconveniências.

Disse, voltando a inclinar-se para trás. E então, virando-se para Claus.

- E agora, uma última pergunta, que apenas Claus poderia responder ... - pausa - Ainda funciona? Sabe, sobe?

Claus pareceu um pouco receoso em responder, mas logo decidiu-se e assegurou:

- Sim, é um pouco difícil, mas ainda funciona perfeitamente. - Ele disse, virando a cara.

Será que Claus dissera a verdade? Ou será que simplesmente tentava não revelar um grande defeito daquela vida, seja por vergonha própria, seja para não inibir novos voluntários? Barabbas tinha um certo conhecimento do comportamento humano. Agora analisava os sinais. Mesmo um morto teria sinais, pois conservava as faculdades mentais intactas. E então, o resultado final: mentira ou verdade?

[Rolling Dice... Printing Results...]

Barabbas olhou bem no rosto do homem, analisando todos os tiques nervosos, todoas as contrações porvavelmente involuntárias de seus músculos e só pôde concluir uma coisa: o homem dizia a verdade e parecia estar um pouco embaraçado pelo tema- que não costumava tratar assim, em público.

Barabbas não sorriu, nem fechou a cara. Apenas acenou positivamente com a cabeça e recolheu-se novamente.

- Muito bem, não tenho mais perguntas. Se nosso nobre anfitrião desejar continuar, acredito que não haverá mais interferências, nem minha, nem de ninguém.

Ele não estava respondendo pelos outros, mas parecia querer dar prosseguimento áquele momento. Em verdade, queria era discutir assuntos sérios com Frederick. Barabbas não compraria aquela proposta barata. Não, ele não cairia naquele papo furado, visto que nem o próprio Frederick não comprou. Barabbas servia para outros propósitos. Outros ...

O homem que Barabbas não reconhecera direito interveio, trazendo à tona a dúvida que assombrava Barabbas:

- Se esta dádiva é tão interessante e milagrosa assim, porque você mesmo não tornou-se um morto-vivo? - Ele indagou, debochadamente, como se houvesse perdido a noção do perigo.

- Não é tão simples. Estes corpos são mantidos neste estado físico plausível e controlados e monitorados por ninugém menos do que a minha pessoa. Desta forma, eu estou excluído do já seleto grupo que tem acesso à estes benefícios, já que não vejo como poderia executar operações, sirurgias e outros testes deste em mim mesmo. - Ele virou a cara, desencontrando brevemente os olhos dos do homem. - Além disso, há outras razões menores pelas quais eu não posso me tornar um deles eu mesmo.