"Que dia do cão, hein?" (Jason Miller - Cap.1)

- E aí, vamos sair pra beber alguma coisa? - Louis parecia eufórico, como se tivesse alguma coisa pra contar, mas não pudesse, por algum motivo. - Vamos, vai. Faz tempo que nós não saímos juntos, cara!

O escritório havia ficado praticamente vazio. Além de vocês dois, só haviam os esforçados que estavam fazendo hora extra ou algum serviço independente, e os workaholics que nunca iam pra casa. Ou melhor, Jason nunca ficara tarde o suficiente para ver um deles indo embora, então já imaginara, com seus colegas, que estes costumavam dormir por ali mesmo.

Jason mesmo não costumava ficar até tão tarde no trabalho, mas havia se perdido em seus pensamentos durante a tarde. Olhando pelo lado bom, ele já terminara o artigo sobre o crime bizarro, e este estava muito bom, por sinal.

Jason via seu próprio reflexo na tela do monitor desligado, ao passo que reverberava sobre todo o ocorrido daquela tarde. Os acontecimentos iam e viam, oscilando como ondas ecoantes em sua mente. As imagens latejavam, enquanto ele tentava, mesmo sem querer, resolver os enigmáticos quebra-cabeças que foram jogados em seu colo.

A voz de Louis soou distante, mas, mesmo distraído, Jason conseguiu distinguir o significado da mensagem.

- Fechou... estava mesmo precisando espairecer - disse se levantando e ajeitando seus pertences que jaziam espalhados em cima de sua mesa. - Para onde vamos?

[Mal a enrolação, é que foi difícil escrever o do paozinho, acabei demorando mais do que o esperado]

Louis ajudou Jason a recolher algumas das coisas que estavam na mesa.

- Estou pensando em te levar pra um bar novo que conheçi recentemente. O Barbarian. Fica aqui perto. É bem animado e o barman é gente finíssima. - O homem deu um sorriso. - Tenho uma coisa muito boa pra te contar. Vamos? Eu guio.

Uma leve curiosidade pousou sobre seus pensamentos, mas, sendo educado, e não querendo adiantar a conversa que provavelmente se desenrolaria no bar, Jason apenas assentiu com a cabeça tudo o que fora proposto.

Estava cansado e sonolento, com uma espécie de amargura indistinguível lhe apertando o peito; e, de antemão, sabia que não iria demorar muito no bar. "Preciso de um banho", pensou.

Vou com ele até o bar, cada um com seu carro.

Vocês estacionam seus carros próximos ao bar e entram juntos no recinto.

O ambiente do lugar era único. As mesas talhadas em ébano, o balcão também do mesmo material, o bar atrás do barman, com seu moderníssimo sistema de refrigeração simplesmente não tinham o menor nexo com o nome do lugar. O ar estava, permanentemente impregnado com um odor estranhamente agradável de álcool, e, graças a deus, como disse Louis, era proibido fumar ali. àquela hora do dia, o Barbarian estava em seu pico de clientela. Em outras palavras, lotado.

Vocês conseguiram, com algum esforço, encontrar uma mesa vazia um pouco longe do bar. Uma garçonete passava, ocupada, por perto de vocês, mas não conseguía arranjar tempo para atendê-los.

- Se quiser alguma coisa, acho melhor chamá-la. Ela não vai parar tão cedo, não. - Ele fez um sinal, levantando a mão, e a garçonete veio, apressada, em direção da mesa.

- Oque desejam, cavalheiros? - Sempre com um sorriso no rosto.

- A melhor cerveja preta que tiver pra mim, por favor. Estou aqui para celebrar, hoje. - Era impossível de se esqueçer: Louis adorava cerveja preta. Se deixasse, ele conseguia passar horas falando sobre como o delicioso sabor inconfundível daquela divina bebida permanecia na boca inndefinidamente, e apreciá-lo era siplesmente uma bênção.

- E o senhor? - A garçonete entimava Jason a decidir logo, pois precisava atender outros clientes.

Celebrar? Parecia realmente interessante o que Louis tinha para contar, acreditou.

- Traga duas então - deu de ombros, com um sorriso de dúvida estampado no rosto.

Jason se ajeitou na cadeira de modo que pudesse olhar todo o bar.

- Aqui é um lugar muito legal mesmo. Já até sei quem trazer aqui - falou, pensando em Luana - Mas diz aí, Lou, vamos comemorar o quê, afinal?

Ele se ajeitou na cadiera, se aproximou de Jason, como se ninugém mias pudesse ouvir.

- Começando pelo começo. Ontem, um cara, Clark Porter, empresário, foi assassinado. Eu não tinha muito oque fazer e fui cobrir o caso. O editor gostou tanto do meu artigo que me ofereceu uma promoção! - Os olhos dele brilhavam, eufóricos. - Eu vou ganhar muito mais, escrever artigos mais interessantes! E Mark me disse que também ia lhe propor algo semelhante hoje. E como tenho certeza que você aceitou, quis vir celebrar!

Nesse momento, a garçonete chegou e serviu as cervejas.

Jason soltou uma muda exclamação com a revelação de Louis. Foi uma grande surpresa aquela notícia.

- Caramba cara! Meus parabéns! - esticou a mão para cumprimentá-lo. Sorria alegremente, enquanto pensava um jeito de contar que havia declinado a promoção de Mark.

Com a bebida na mão, propôs um brinde antes de dar um curto gole na cerveja.

- Mas como foi a história do gentil empresário que alavancou sua carreira? - riu com o próprio humor negro.

Louis brindou animado a bebida e tomou um longo gole de sua cerveja.

- Bom, vou dar uma resumida. Clark Porter era um empresário não muito bem sucedido. Seus negócios estavam em declínio, e para piorar, sua filha e mulher haviam se metido num acidente de carro dois dias antes. Ele tava muito mal, caminhando de volta pra casa, quando trombou num cara. Esse cara era Brian Thompson, um homem de fora que veio passa um tempo aqui na cidade. Eles foram beber juntos. Viram os dois saíndo juntos do bar. - Ele tomou outro gole da cerveja, mais pra fazer mistério e clima do que por beber mesmo. - Na manhã seguinte, encontram Clark morto num beco, nu. Tinham roubado sua roupa e todos seus pertences. Coincidentemente, foram todos encontrados no quarto de hotel de Brian. Prenderam-no na hora. Não sei como vai o julgamento, mas tenho quase certeza que será considerado culpado. Quero dizer, não tem outra resposta pra esse crime. E você, tem novidades?

- Caraca... se fodeu bonito... - disse displicentemente, pois, afinal, estava num bar, não é?

Após dar outro gole na bebida - e coser algumas teorias sobre o crime contado por Louis -, Jason respondeu ao amigo:

- Bem... parece que você será meu chefe a partir de hoje - sorriu meio sem-graça; não por causa daquilo, mas pela surpresa do amigo, que com certeza viria. - Não aceitei a promoção do Mark.

Louis ficou estarrecido, olhando para Jason com dúvida estampada no rosto.

- Por que não aceitou?

O olhar de Jason se repousou no líquido amarelado que se agitava dentro corpo. Suas mãos sacodiam inconscientemente a caneca, enquanto sua mente se lembrava da época de dificuldades que passou com seu pai.

- Você sabe... - começou - Quero me lançar em vôos mais altos.

Apesar de não parecer muito disposto a falar sobre, Jason continuou:

- Não é falta de humildade, sabe? Mas eu sempre tive certeza que aqui não é o meu lugar. Sempre soube disso.
"Houve uma época em que eu tive de retornar para cá, para ajudar o meu pai. Naquela época eu não procurei saber das coisas, mas logo descobri que perdi grandes oportunidades de carreira.
"Pro infeno com elas! Meu pai precisava de minha ajuda e eu não me arrependo de nada, Louis. Mas agora não posso esperar mais. Entende?"

O homem ficou em silêncio profundo por alguns segundos. Ele parecia triste.

- Entendo. Eu também me sinto assim. Mas... - Ele tomou um longo gole de sua cerveja, como se tentasse adiar sua fala. - Sabe, eu te admiro muito. Pessoalmente, tenho muito medo de me lançar no mercado assim, tentar ir mais alto. Qando me sentir seguro, pode ter certeza que me verá numa dessas New York Times da vida!

O humor de Louis estava bem confuso. Você não sabia se ele estava desanimado ou muito animado.

- Mas e aí? Você vai pra Nova Iorque um dia desses e tentar a vida por lá mesmo? - Ele parecia muito interessado no que Jason tinha planejado pro futuro.

[A cerveja é preta xDD]

De sobrancelhas arqueadas e fitando o nada, Jason contou sobre seus planos:

- Bom, se eu não for despedido antes... - sorriu em tom de brincadeira, pois isso nem passava pela sua cabeça. Não queria deixar passar - Vou me empenhar nas minhas matérias para ver se chamo a atenção de "alguém". Se sim, talvez me mude, mas aí só o futuro dirá...

- Acorda, meu! Se o Mark te ofereceu uma promoção, é obvio que não vão te despedir! - Louis estava bem surpreso com a passividade de Jason, mas tentava se mostrar animado. - Bom, parece que vou mandar em você.

O homem deu uma alta gargalhada, acabou com sua cerveja, e bateu com o fundo do copo na mesa.

- Bom... Acho melhor eu ir pra casa agora. Quero dizer, Ana vai gostar de ficar sabendo que fui promovido. - Ele fez um sinal chamando a garçonete.

Emobra parecesse que a conversa havia sido rápida, havia passado um bom tempo. O bar havia esvaziado um pouco. A garçonete veio atendê-los rapidamente.

- A conta, por favor. - Em alguns minutos, a jovem já havia trazido a conta. - Eu pago, Jason, pode deixar. Eu que te convidei.

- Ah, eu ia fazer uma média com o chefe... - disse sorrindo, e levando a carteira de volta ao bolso. - Mas acho que deixá-lo pagar a bebida também é uma boa.

Jason esfregou os olhos e esticou um pouco as pernas antes de levantar. Num salto já estava de pé, como se estivesse animado para voltar para casa.

- É, eu também vou nessa - estendendo a mão, Jason iniciou um cumprimento - Muito obrigado pelo convite, Louis. Te desejo toda a sorte do mundo, cara.

Após o aperto de mãos, e da rápida checagem para ver se não havia esquecido nada, o jornalista acompanha seu amigo - e novo superior - para fora do estabelecimento.

Daí quero ir diretamente para casa.

O dois saem do bar. Já anoitecera, o céu estava escuro, mas limpo. Podia-se ver centenas de estrelas. O único porém, é que se via, também, grandes nuvens de tempestade se aproximando.

- É, parece que vai chover. É melhor ficar em casa à noite. - Ele ficou olhando, pensativo para as nuvens. - É, bom, foi muito bom sair com você hoje, cara. Fazia tempo que n[os não saímos pra jogar conversa fora.

Ele estendeu a mão para Jason, e depois do cumprimeto, cada um tomou seu caminho. O homem chegou em casa cansado, e viu as luzes acesas. Sua mãe provavelmente ainda estava acordada. Assim que entrou em casa, sua mãe o chamou, da sala de estar.

- Filho? Vem cá, vem?

Jason despejou as chaves e a carteira em cima da mesa da sala onde uma cesta de palha servia de ninho para seus pertences, e depois alertou sua presença.

- Mãe? Cheguei.

Em resposta, ouviu a voz abafada da mãe, que vinha de algum cômodo da casa. Guiado pelo som, o rapaz foi de encontro à ela.

A mãe de Jason estava na sala de estar, assistind à televisão.

- Sente-se aqui do meu lado, filho. Estava com suadades, você ficou fora por um bom tempo. - O jovem se lembrou que sua mãe também era um dos fatores que sempre o impediu de sair da cidade em busca de sucesso profissional. - Me conte, como foi o seu dia? Mark gostou do seu artigo?

Já havia planejado todo seu itinerário por dentro da casa: sentaria e bateria um pouco de papo com a mãe; singraria para o banheiro, onde tomaria um belo e merecido banho; e depois iria para o quarto, que assombrosamente tentava tomar o lugar da primeira parada.

- Sim, acho que ele gostou, mãe - sorriu e a beijou na bochecha - Aliás, tenho uma boa notícia para a senhora: sabe aquela moça que a senhora gosta? A Miranda? Pois então, ela vai vir morar na cidade.

- A Miranda? Aquela atriz do cinema? - A mãe de Jason estava estupefata. Seus olhos cintilavam, e ela abria um sorriso de orelha à orelha. - É sério? Que bom! Será que falam alguma coisa sobre isso na tevê...?

Ela começou a mudar de canal, procurando alguma notícia, mas não havia nada sobre a mudança de Miranda Holler. Oque era de se esperar, na verdade, já que Jason, fora à outra cidade para conseguir um furo do qual ninguém mais estava ciente.

Cansado, o rapaz foi ao banheiro, tomar seu tão merecido banho, relaxar e finalmente, descansar. Tivera um dia cheio. Ligou a água, que caiu já quente, motivo pelo qual adorava ter um chuveiro elétrico, e banhou-se na mesma. Seu estresse do dia parecia escorrer junto com a água. Passou algum tempo aproveitando seu banho e pensando no dia.

Saiu do banho sentindo-se uma nova pessoa. Estava indo em direção de sua cama, quando foi interrompido por um toque de seu celular. Ele atendeu, era Luana:

- Alô? Jason? - sua voz parecia preocupada.

- Alô? Luana? - disse um pouco inseguro, pois aquela era uma voz nova para ele. - Luana? O que houve?

Um turbilhão de coisas passaram pela cabeça do jornalista. Seu corpo respondia aos pensamentos caóticos emitindo pulsos de dor em lugares estratégicos; uma estratégia que visava fazê-lo se render ao casaço.

- Bom, é que... Tem um monte de albulânicas passando aqui perto de casa, e achei que você talvez saberia de alguma coisa... - Jason ouvia algo que pareciam sirenes de ambulância no fundo.

Jason sorriu complacente. Para ele, Luana só estava assustada; o que não era para menos, afinal. Coisas bizarras haviam preenchido o dia daqueles dois.

- Olha, está tudo bem Lu... - repentinamente percebeu que tinha a péssima mania de criar uma certa intimidade com as pessoas. E tentou se corrigir - ...ana. Deve ter sido apenas alguma senhora, no alto de seus oitenta e sete anos, tendo algum problema cardíaco. Ou então algum acidente de trânsito. Não é nada de mais, não se preocupe.

Sem perceber, Jason havia falado exatamente como um pai, explicando ao filho assustado que o gemido sombrio que ele ouvira no quarto não era nada mais do que o vento atravessando as frestas da janela.

A mulher do outro lado da linha se acalmou aos poucos, conforme respirava fundo.

-Você tem razão, Jason. É verdade... - Ela ficou quieta por alguns minutos. - É bom ter alguém com quem falar quando estou nervosa, obrigada. Acho que vou dormir agora, boa noite.